INVASÕES DO IRAQUE E UCRÂNIA E OS IMPERIALISMOS

CRAVINHO – O CABO DE ESQUADRA

Fez no dia 20 deste mês vinte anos que os EUA com o apoio do Reino Unido e da Espanha invadiram o Iraque com uma monumental mentira agitada até à náusea de que Saddam Hussein tinha armas de destruição massiva.

Alguns dos mentores deste crime horrendo contra o direito internacional já vieram mostrar arrependimento pelos 320.000 mortos causados.

É bem revelador que sendo uma data redonda em Portugal os media que rejubilaram na invasão, primeiro com a eliminação das armas, depois com a instauração da democracia (houve quem a comparasse com o 25 de Abril), fugiram agora dela e sem deixar de referir como algo menor concentraram toda a atenção na invasão da Ucrânia, também ela um ignominioso crime contra o direito internacional.

Recordemos o massacre de Faluja, os mercenários da Blackwater, os terríveis crimes cometidos na prisão de Abu- Grhaib, todo o rol de danos colaterais justificados pelo fim da invasão e comparemos com o modo como retratam as atrocidades russas cometidas na Ucrânia.

O que espanta já não é só a hipocrisia, é também, em muitos aspetos, o cinismo com que se apresenta a realidade, pois a cerca de dez mil quilómetros de distância as armas inexistentes no Iraque ameaçavam os EUA e as perseguições armadas ás populações de língua russa bem encostadas à Rússia não constituíam qualquer ameaça à Rússia, nem a sua eventual entrada da Ucrânia na OTAN depois dos países do Pacto de Varsóvia terem ingressado.

Por outra banda, o primeiro-ministro japonês em Bucha mostrou o seu regozijo pela ordem de detenção de Putin pelo TPI e o mundo ocidental por intermédio dos media mostra a sua indignação pelos crimes russos; paremos um instante para pensar: quem deve ser presente ao TPI por mais de 300.000 mortes no Iraque? Quem? George W. Bush? O socialista Tony Blair? Aznar? Durão Barroso? Paulo Portas?

Quem se esqueceu do tribunal que julgou Saddam e cuja sentença era já conhecida antes de instaurado o tribunal?

O Presidente do TPI que ordenou a detenção é polaco e o Secretário inglês? Não era e é a Polónia o país em que o poder judicial não goza de independência?

E de tanto falarem nas armas nucleares russas paremos mias um pouco, só um pouco, o senhor Fumio Kishida, primeiro-ministro japonês, já se esqueceu das bombas atómicas em Hiroshima e Nagasaki? Para quando um tribunal para julgar um dos mais vergonhosos crimes de guerra de guerra contra populações inocentes daquelas duas cidades japonesas?

Mas quem até hoje usou um verdadeiro arsenal de armas químicas no Vietnam depois da invasão que causou mais de dois milhões de mortos vietnamitas?

Não há invasões boas, nem imperialismos bons. Estamos a assistir a uma luta de potências capitalistas (capitalismo de Estado e capitalismo puro e duro). A hegemonia dos EUA saída do fim da guerra fria, tanto quanto se perceciona, está a ser posta em causa. A China, a Rússia e um conjunto de potências do Sul consideram-se capazes de enfrentar as leis do grande império. Este é o ponto.

O que faz falta ao mundo é a intervenção popular e democrática, seja onde for. Os povos, os sindicatos, os movimentos sociais, designadamente o movimento da paz, os democratas têm de se levantar para exigir o fim da guerra.

Não se pode embarcar na trágica ideia de derrotar a Rússia ou a Ucrânia militarmente. Parar a guerra é a melhor segurança contra o desnorte que será a prossecução sem fim da guerra.

A democracia e a paz são as armas mais eficazes contra o precipício, o militarismo será o caminho para a próxima guerra mundial.

Os portugueses devem empenhar-se para se fazer parar a guerra; Portugal como membro da OTAN em caso de conflito mundial estará na mira de armas nucleares e os militaristas de Moscovo e Kiev não justificam a postura do governo português onde o Ministro dos Negócios Estrangeiros mais parece um cabo de esquadra, sem desprimor para os cabos de esquadra, do que um diplomata.

Há vinte anos o mundo levantava-se contra a invasão do Iraque; hoje o mundo parece sem rumo. Haja a coragem de apontar um rumo certeiro- a paz.

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