Esqueçam isto, disse MRS, o especialista em joanetes, tosquiador de lãs, especialista em ginginhas, vendedor de plumas, lesmas, de patos mudos e garnizés de circo, criador de factos e realidades virtuais.

Quando nos pedem para esquecer “isto” toda a gente vai responder antes de esquecer, mas o que é “isto”?

Isto é a questão.

Então o que é “isto”? Quem pediu para esquecer sabia que “isto” eram os direitos humanos espezinhados no Qatar pelo Emir e sua Coorte real.

A mais alta figura do Estado, um ilustre Professor de Direito Constitucional, entre o mundo do futebol e o universo do respeito pelos Direitos Humanos pediu-nos para esquecermos aquilo.

Entre as declarações totalmente descabidas de treinador de futebol e as de Presidente da República, Sua Excelência não teve dúvidas – esqueçam, eu vou lá.

Fazer o quê? Sua Excelência nada disse, talvez entenda que se ele lá estiver apareça muito mais tempo nos vários canais que nos deixaram todos eles a olhar no céu o avião com umas dezenas de jogadores, treinadores e dirigentes com vencimentos multibilionários, alguns tão patriotas que tudo fazem para não pagarem impostos apesar dos milhões que auferem.

A pátria, a ditosa e amada pátria, fica nas manigâncias para escapar a pagar o que é devido ao Estado para que os mais desfavorecidos possam ter acesso a cuidados de saúde e de educação, os grandes apoiantes daqueles que vão ao Catar competir em estádios que tresandam a a servidão.

Claro que queremos que Portugal ganhe, claro que vamos saltar de contentamento quando marcarem golos que “nos ” derem vitórias, mas por favor não nos enganem.

Não nos peçam que esqueçamos aquilo, porque aquilo são o mínimo dos direitos humanos, o mínimo dos mínimos, tão só. Então os direitos humanos não são para todos os humanos? São ou não são?

Paulo de Traso, o famoso São Paulo, há dois mil anos dizia que não havia judeus, nem gregos, nem romanos, mas humanos. Podemos esquecer aqueles que na servidão total, própria dos tempos medievais, foram obrigados a construir estádios para jogadores pagos a preço de oiro reluzente joguem? E treinadores pagos com vencimentos estrondosos especializados em fugir às leis da República ou do Estado?

Não há indianos, nem filipinos, nem iemenitas, só humanos, esmagados pelo poder de um Emirato medieval perante o qual os dirigentes da FIFA se vergaram.

Marcelo especialista em futebol, em ginginhas, em provas de vinhos e agente de enterro, em aplicador de cataplasmas, amolador de facas e tesouras, tosquiador de lã, especialista de joanetes e de azia do estômago, vendedor de plumas e castanhas e de perus e galinhas da guiné, tirou uma especialização que Siegmund Freud não foi capaz – esquecer o que não convém.

Não esqueçam isto.

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Um pensamento sobre “Esqueçam isto, disse MRS, o especialista em joanetes, tosquiador de lãs, especialista em ginginhas, vendedor de plumas, lesmas, de patos mudos e garnizés de circo, criador de factos e realidades virtuais.

  1. Luciano Caetano da Rosa

    De acordo com este bom artigo, chamando a atenção para o facto de os critérios do PR serem bem voláteis, o mesmo PR já veio tentar justificar-se com ponderosas razões de Estado… ‘porque aproveita para passar pelo Egipto e encontrar-se com o Pres. Sissi, etc. e tal’. No artigo há apenas dois lapsos para que amistosamente chamo a atenção do autor: Paulo ou São Paulo que antes de ir pela estrada para Damasco se chamava Saulo e era natural de Tarso (e não de Traso); enfim, uma oração final que deveria ser…’ para que … joguem’ lá faltando o ‘ que ‘… nada de muito importante ou que mate alguém. Parabéns ao autor, de qualquer modo.

    Gostar

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