Guerrero – expoente do flamenco

 

A arte é a vontade dos seres humanos de se superarem face à realidade que os envolve, ao próprio destino que é a morte.

Desde os primórdios que os humanos recriaram o mundo transformando-o numa outra realidade a partir dos sentimentos que os percursos de vida os marcavam.

Segundo o insigne cientista, António Damásio, no seu último livro “A estranha ordem das coisas”, os sentimentos são”…os catalisadores das respostas que deram origem às culturas humanas…”

Assistir ao espetáculo de Guerrero é mergulhar num mar de sentimentos e emoções inebriantes. Desde logo pelo desfrutar da arte do bailarino exímio e sedutor que nos “verga” através da mestria da sua dança que faz recordar, em muitos aspetos, os contornos construtivistas de Malevich, mais que o cubismo de Picasso.

Guerrero utiliza as mãos e os braços como um prolongamento sintonizado com o esplendor da dança e arrebata-nos com traços geométricos que se encontram nos construtivistas do início do século passado

O domínio perfeito do corpo Guerrero para nos mostrar a alma pura do flamenco.

Há no espetáculo uma espécie de Mito de Sísifo que se traduz na caminhada/sapateado até ao cume da explosão da capacidade física empurrada pelas guitarras e as vozes e palmas soberbas das mulheres de negro. Uma sensualidade que arrebata num jogo de força/sedução/paixão até à prostração. A queda do corpo (como a pedra de Sísifo) para poder respirar e continuar a dança.

Negro é o cenário e negra a dor que muitas vezes se ergue no palco, embora seguida da mais pura dádiva de amor.

Guerrero dança como se fosse morrer para ressuscitar, para se superar, para nos mostrar o poder da arte. É o corpo apolíneo que se move ora como uma borboleta cujas asas são os braços ora como um raio atingido pela dor antiga de um povo errante que conheceu destinos cruéis, ora como um ser que se nimba na busca do amor. Ora como pura exibição do poder de seduzir, seduzindo.

O poder sensual de Guerrero é de tal ordem que na parte final do espetáculo veste uma saia e usa-a com tal erotismo que transcende o próprio género. É a sensualidade de todos os tempos e de todos os seres, por isso, deslumbrante.

As vozes são poderosas vêm de dentro da Terra para a superfície, como um terramoto de dor ou de carinho. Telúricas.

As palmas destas mulheres batem certas com a expressão artística de Guerrero seja quando o incentivam, seja quando valem como amor e carinho em que o bailarino se envolve.

As guitarras dão o ritmo. Nem sempre damos por elas, mas em certas alturas damos conta da sua importância. São o fundo onde tudo se passa.

Bailarino, vozes, palmas e guitarras formam um todo de tal modo harmonioso que no fluir do espetáculo sobressai o todo, onde naturalmente brilha na constelação o astro maior- Eduardo Guerrero.

“Guerrero”  passou com a mais alta distinção.

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