As televisões estão a arder por dentro, cheias de fogos e as horas das grandes chamas, neste verão onde tudo parece arder, atingem o pico por volta das oito horas, ao fim da tarde.
Os fogos, que há anos incendeiam zonas do país, instalaram-se nas televisões e nos media em geral.
Basta carregar no on e o fumo invade-nos carregado de desgraças contadas na primeira voz, o que faz supor que o que acontece nas televisões (tantos fogos) sucede em Mação ou Sabugal ou Gavião ou onde ardem florestas deixadas ao abandono por gente que não aguentou o abandono e deixou abandonados pais, avós e vizinhos, numa solidão sem nome.
Apressurados os repórteres vão de microfone em punho pedir a opinião de idosos que não abandonaram as suas casas com medo de serem comidas pelas chamas.
Eles, os abandonados, queixam-se de ninguém os ajudar e sozinhos terem de fazer frente ao fogo, criando a ideia subliminar que poderia haver um bombeiro para cada casa …e naturalmente os repórteres cheios de atualidade dão voz aos injustiçadas da terra queimada, como se fosse novidade, nesta estação, haver incêndios em Portugal, na Califórnia ou na Austrália quando as temperaturas sobem acima dos quarenta graus.
E a compaixão dura o tempo da emissão e os abandonados regressam a suas casas ameaçadas e ali ficarão todas as suas vidas sós, salvo se houver fogos e os repórteres lhes forem perguntar se os bombeiros apareceram para os ajudar. Assim. Como se o país tivesse um bombeiro por casa ou por cada idoso.
Além disso o fogo, desde Prometeu, foi sempre algo mágico e aterrador para o homem.
As televisões procuram o desespero e o medo estampado nos rostos e olhos de quem enfrenta a desgraça. E os fogos que fazem o país arder instalam-se nas televisões e ardemos duas, três e mais vezes.
Este agosto, tirando Trump, Kim Jong Un e o Daesh, as notícias são os fogos. E a queda de uma árvore, como se as árvores não caíssem e os fogos fossem obra de quem os quer impedir.
O que é um fogo comparado com o aumento das pensões, resultado de tanta luta? Sim, este mês os idosos em vez de empobreceram mais um bocado, como prometiam Passos/Portas /Cristas, viram aumentados os seus rendimentos.
Neste mês de desgraças, há muito previstas, consome-nos o fogo que se repete ano após ano, mas que tem de ser notícia e incendiar as televisões, todas à uma.
O espantoso é que esta democratização da desgraça só dura o tempo da própria desgraça. Esfuma-se. Mesmo os que sentem a compaixão pelos concidadãos logo que a notícia do fogo acaba, esquecem a desgraça e passam à notícia seguinte. O automatismo está bem oleado. Apesar da desgraça. O que importa é a emoção. O resto é a solidão dos idosos. Num país desertificado no seu interior.
D.L.