ONDE JÁ CHEGOU ANTÓNIO COSTA

António Costa, enquanto Primeiro-Ministro de Portugal, declarou em 2023/12/11, que defende em relação ao conflito do Médio-Oriente a existência de dois Estados …com o Hamas devidamente exterminado…in “Observador”

Com o recente cessar-fogo e libertação de 3 reféns israelitas e 90 prisioneiros palestinianos, maioritariamente mulheres, crianças e idosos, agora na qualidade de Presidente do Conselho Europeu, António Costa saudou a libertação dos reféns e pediu pausas humanitárias a fim de fazer chegar ajuda humanitária porque a Alemanha se opõe ao termo cessar-fogo.

Voltou a frisar, na esteira da Sra. Úrsula que Israel tem direito a defender-se, o que já causou a morte a cerca de pelo menos 47 000 palestinianos e à imposição de um bloqueio total a Gaza.

António Costa não é um principiante, tem uma rodagem impressionante. Conhece o poder das palavras. Sabe que a palavra devidamente tem uma medida que não deixa margem para dúvida quanto ao extermínio. Os nazis queriam exterminar os judeus. Pelos vistos, Costa acha normal exterminar o Hamas para se encontrar a tal solução.

Só que o Hamas não foi exterminado apesar de todo o horror e dos brutais bombardeamentos a que os palestinianos foram sujeitos. O Hamas, goste-se ou não, representa em Gaza a resistência do povo palestiniano.

Não são os EUA e a UE quem escolhe os representantes palestinianos, nem estes os representantes israelitas.

Costa tem um grande cargo, mas atenção quem vestir um fato que se ajeita ao corpo e se sente bem significa que aquilo que diz e aquilo que faz é o que fica para a História.

E ficará para a História por ter optado pelo lado errado. No Médio-Oriente quem viola a cada segundo o direito internacional é Israel. O ocupante é Israel. As Resoluções da ONU são claras.

Costa saudou e bem a libertação dos reféns, mas não teve uma palavra de saudação para as dezenas de milhar de palestinianos presos por lutarem pela sua pátria livre da ocupação.  Não são os ocupantes que escolhem os “libertadores”. São obra de cada povo.

Dá pena ver A. Costa cumprir este papel. Se calhar ainda não reparou que o cessar-fogo nada tem a ver com a UE, sendo o conflito nas costas da Europa. A UE afunda-se na sua irrelevância. Que tristeza.

NÃO SERÁ MAIS UM SINAL DE DECADÊNCIA?

Quando Trump se sentar na Sala Oval, na Casa Branca, em Washington, terá à sua mesa o homem mais rico do mundo e um conjunto de plutocratas cujas virtudes conhecidas são a habilidade para enriquecer como nunca visto. Só Musk vale1,5 PIB de Portugal.

No seu conjunto apostaram muitas centenas de milhões em donativos a Trump. Já recuperaram. Musk, após a vitória de Trump, somou à sua fortuna 120.000 milhões de dólares a qual atinge 450.000 milhões de dólares; Mark Zuckerberg 90.000 milhões e Jeff Bezos 67.000 milhões.

Trump , na Florida, no Mar-a-Largo, estendeu tapetes vermelhos para receber os seus novos governantes, distinguindo-se de entre eles o multibilionário Musk cuja missão é, no plano interno, entregar aos privados o que irá tirar aos serviços públicos e, no plano externo, animar a extrema-direita a roçar o fascismo. Tenta com o seu Himalaia de dinheiro e com os seus donativos replicar Trumps por todo o mundo.  

Os CEO da Goldman Sachs, Ford, General Motors, Ted Sarandos da Netflix, Sam Atman da AI, Tim Cook da Apple o do Tik-Tok por lá passaram a cumprir o seu dever de dar milhões para a grande festa da entronização de Trump e, em troca, receber aquilo a que têm direito nesta nova versão do capitalismo pós crise 2008.

 Michel de Montaigne, nos Ensaios II, na edição E-Primatur/Letras Errantes, pag 24, regista que na Antiguidade …os habitantes de Paros enviados para reformar os Milésios…ao visitarem a ilha, tomaram nota das terras mais bem cultivadas e das casas de campo mais bem geridas; depois de registarem o nome dos seus proprietários nomearam-nos seus governadores e magistrados… Foi um desastre. Quem zela pelos seus assuntos privados não é seguro que o faça pelos assuntos públicos. Pela simples razão da natural contradição entre os interesses privados dos plutocratas e o interesse público de todos os cidadãos.

Trata-se de um governo que visa obter a eliminação de quaisquer entraves a sua atividade predadora. É de prever choques entre o velho capitalismo que sempre esteve ligado aos governos e estes novos capitalistas que no primeiro mandato de Trump se apresentaram fora da sua influência e agora mudaram de campo.

Musk continua a dirigir a Tesla, a SpaceX, a Starlink e a Neuralink e acumula o posto de sanear os serviços da Administração pública, como se não fosse incompatível com os seus interesses nas encomendas do Pentágono e das suas empresas.

Para Trump ser muitíssimo rico é uma marca de excelência e o bastante para lhe entregar importantes setores das atividades estatais desde a saúde a sanitárias, onde Vivek Ramasway, ajudante de Musk no Doge- Departamento de Eficiência governamental, é perito devido à sua fortuna feita nestas áreas.

Nos EUA e talvez pela primeira em toda a História a esmagadora maioria dos novos governantes são escolhidos exclusivamente pelo peso do seu poder económico. Um governo de multibilionários ao seu exclusivo serviço.  Não será mais um sinal de decadência? Não é a democracia o governo do povo, para o povo e pelo povo?

https://www.publico.pt/2025/01/13/opiniao/opiniao/nao-sera-sinal-decadencia-2118628

Peripécias do novo banqueiro Durão Barroso

O novo banqueiro, Presidente Não-Executivo da Goldman Sachs, José Manuel Durão Barroso, veio a público no Expresso de 10/01/2025 opinar sobre o papel da Europa após a eleição de Trump nos EUA.

Em sintonia com o CEO da Goldman Sachs que foi, como muitos outros CEO – General Motors, Ford, Tik-Tok, Apple, Mark Zukerberg, Jeff Bezos- entre tantos outros, a Mar-a-Largo levar as suas doações para a entronização de Trump, o nosso Zé Manel não podia ficar nas encolhas. Se os outros mudaram de campo, pois ala que se faz tarde.

Durão Barroso, cherne de águas profundas e perdigueiro de raça fina, sabe bem o que vale estar alinhado com quem manda.

Já assim foi em 2003 aquando da invasão do Iraque. Solenemente jurou que o Iraque tinha armas de destruição massiva, o que ele sabia ser redondamente falso. Mas levar à morte de meio milhão de iraquianos e à destruição do Iraque não é significativo, nem comparável com a ordem internacional com regras onde se aplicam sanções ao funcionários do Tribunal Penal Internacional por considerar criminoso o carniceiro de Telavive, como a recente aprovação do projeto de lei da Câmara dos Representantes, na quinta-feira passada, como dá notícia o New York Times..

Detenhamo-nos no que veio arengar o novo banqueiro, outrora dirigente do MRPP, defensor que o vento Leste haveria de varrer a burguesia e o PCP de Álvaro Barreirinhas Cunhal, graças ao marxismo-leninismo-maoista. Sim, estamos diante de uma personagem que ora se lança para o fundo dos mares, seguindo o cherne, ora voa para onde os ventos do poder sopram como os da águia imperial.

Então, a Europa tem de ir a correr comprar armas aos EUA para fazer frente à Rússia de Putin, sendo ele o fulano que melhor o conhece…Ele não diz exatamente assim, mas é assim que ele diz, pois, ao alegar que temos de fazer frente à Rússia e aumentar as despesas militares para 4 ou 5 % é claro que a Europa não o pode fazer, restando-lhe, como pretende Trump e Cª, que as comprem ao Pentágono. Mais, seguindo os ditames do velho Império romano defende o banqueiro que se queremos paz temos de nos armar…que como se sabe é a fórmula que nos leva direitinhos para a guerra.

O realinhamento do CEO da Golman Sachs com Trump no tapete vermelho na Florida, em Mar-a-Largo propriedade do multibilionário, que se sublevou contra os resultados eleitorais de há quatro anos e que que proclamou nestas eleições que se não ganhasse haveria um mar de sangue, o ora condenado por fraude fiscal, a propósito do serviço de uma prostituta, não deve ter passado desapercebido a Durão Barroso. Toda a sua carreira o comprova. Ele tem o pedigri dos melhores narizes. Ele sabe “parar”. Sabe cheirar, ver e calcular o salto e o que deve fazer em cada momento.

Este é o momento Trump bem rodeado pelos mais ricos e poderosos do mundo. Se é o momento dos homens que teriam de ter milhares de vidas para gastarem o que têm, na sua lógica o seu momento é agora, sempre na vanguarda.

O novo banqueiro nunca falha. Os EUA vão aplicar novas taxas às exportações europeias e até quiçá lançar uma OPA com traços militares sobre a Gronelândia; é preciso comprar armas aos EUA e partir para o desafio, diz o Zé Manel. Bravo. No fundo, bem no fundo, parece que o problema é mesmo o vento que sopra de Leste, designadamente da China. Já não será a faísca a incendiar a pradaria. Apenas a natural mudança no mundo, sim o Atlântico já não chega para conter o Pacífico. Até lá…em Gaza os mortos são mais de setenta mil, a grande maioria crianças e mulheres. Sim! Em nome dos valores liberais. Amen.

Depois do holandês da troica, dos copos e das mulheres, chegou o das guerras

A decadência também se traduz na incapacidade de reconhecer o rumo que levou a essa situação e consequentemente é causa da incapacidade de alterar esse rumo.

A hegemonia dos EUA já não opera como operava. O que faz o sistema? Manter o rumo por outras vias, como se viu na disputa K.Harris, Biden/Trump. Quer Democratas, quer Republicanos apostam na hegemonia mundial e tudo fazem para a conseguir. O rumo é esse, sendo os métodos diferentes.

No velho continente, apesar da recessão da Alemanha e a crise da França, o eixo da UE,  o rumo assente no militarismo é para manter, bem sabendo os dirigentes europeus que se trata de tornar a UE mais dependente, acarretando perigos que se se concretizarem a Europa será dizimada e aniquilada, enquanto os EUA devido à sua extensão sobreviverão.

Mark Rutte, o Secretário-Geral da NATO, afirmou muito recentemente o seguinte – “…devemo-nos preparar para uma mentalidade de guerra…”  E é curioso que uma tal declaração não suscitou grande recriminação.

A Europa caminha cabisbaixa para a irrelevância e talvez a consciência desse facto a faça navegar para o abismo. Como é possível que ninguém acorde e grite que precisamos mais do que nunca de nos preparar para a paz, o bem supremo de todos os povos e países sem distinção.

Como permitimos este rumo? Que decadência é esta que leva a um holandês ao serviço do Império a proclamar numa Europa cansada de tantas guerras que precisamos de mentalidade de guerra? Como? Então Mark Rutte não se importa que os Países Baixos desapareçam? Quem sobreviverá?

Paralelamente o chefe de todos os super-ricos dos EUA, eleito Presidente dos EUA, proclamou urbi et orbe que o Canadá, a Gronelândia, e o canal do Panamá podem ser objeto de conquista e pilhagem dos EUA se não se comportarem como Trump, Musk e Cª determinarem.

A decadência é exatamente isto: a incapacidade de aceitar os outros tal como são num tempo em que o Império apesar de ameaçar, já não tem o poder de outrora, o que não quer dizer que não seja ainda a potência com mais poder.

O Canadá é um vizinho alinhado com Washington e pertence à NATO, tal como a Dinamarca a quem pertence a Gronelândia. O Panamá é um pequeno país da América Central alinhado com os EUA, desde o rapto de Noriega.

Os EUA, com Trump à frente do país, não conhece os aliados. Se é do interesse do Império engolir este ou aquele, e desde que possa, engole.

Como pode este velho continente, tão cheio de coisas maravilhosas e outras brutais, tão carregado de guerras, tão cheio de sonhos, andar a toque de caixa de um desalmado chefe de orquestra de almas famintas de guerras para alimentar os milhar de milhões dos plutocratas?

Como admitimos que nos digam que precisamos da mentalidade de guerra? Razão, muita razão tinha Ettienne de La Boétie no seu “Discurso sobre a servidão voluntária”, só que o livro é do final do século XVI e nós estamos a entrar no último ano do primeiro quarto do século XXI. É triste, mas não nos tira a força para querendo, abrir, mesmo em tempos de mentalidade de guerra, as avenidas da mentalidade de paz. Que nunca se desista.

NO QUE SE VÊ

Se eu estivesse ali sentado

talvez pensasse no que vejo

como não estou

penso igualmente no que vejo

estar de pé ou sentado

não impede que pense no que vejo

porém, no que eu penso não é bem assim

pois o vazio no banco

é mesmo um vazio

um vazio que se vê

e em que eu penso

No centenário de Mário Soares- em contra-corrente

O centenário de nascimento de Mário Soares (MS) vem ocupando grande espaço mediático repleto de grandes encómios.

Na verdade, MS teve um trajeto que fez dele uma das maiores figuras do século XX.  O seu posicionamento antifascista durante a ditadura granjeou-lhe uma posição de grande respeito entre os democratas portugueses.

A personagem permite puxar o lustro e estes dias sucedem-se elogios infindáveis. Até lhe chamam o pai da democracia, como se o regime democrático não tivesse sido obra coletiva dos democratas e do povo portugueses.

MS fundou na Alemanha em 1973 o PS cujo programa era claramente anticapitalista, tendo aderido à Internacional Socialista (IS). O PS apresentou-se como um partido claramente de esquerda. É também para esse lado que o foco tem de se virar porque a política tem a sua coerência, ou melhor, deveria ter.

MS, no fim dos anos sessenta, quis jogar com aquilo que na altura certos liberais portugueses chamavam a primavera marcelista. Marcelo Caetano acenou com algumas migalhas para tentar dar alento ao regime moribundo. Até mudou o nome à PIDE, mas ninguém foi na conversa. Nessa altura o regime repetia as eleições totalmente viciadas e os democratas portugueses através da CDE (Comissão Democrática Eleitoral englobando toda a oposição) denunciavam a fraude. MS em Lisboa e num ou outro distrito separou-se da CDE e criou a CEUD para ver se tinha ganhos por tentar uma certa proximidade à tal primavera que se revelou um inverno dos mais rigorosos. A cartada de MS não teve êxito. Em 1973 recuou e a CDE apresentou-se como única frente eleitoral que se recusou a ir a votos, tal era a fraude.

No período da revolução MS dirigiu o PS para o centro e para a direita, o que levou a um sangramento de muitos socialistas que não se reviram na sua política. Encabeçou a luta contra o PCP e a esquerda militar, justificando tal posição e alianças desde Spínola a Carlucci com a defesa da liberdade contra o alegado totalitarismo para onde resvalaria a revolução.

Enquanto primeiro-ministro depois das primeiras eleições legislativas levou para o governo o CDS e mais tarde criou o bloco central com o PPD, hoje PSD. Os seus governos foram um desastre. Congelou o socialismo do programa do PS e descongelou as portas dos donos disto tudo.

Desprezando a defesa do interesse nacional, quando Angola se declarou independente em 11 de novembro de 1975, MS à frente do governo, foi dos últimos governos a reconhecer a independência daquele país, muito depois de países como o Brasil e a Espanha.

Portador de uma ambição desmedida, sublevou-se contra o candidato do Partido Socialista a Presidente da República, um homem impoluto e seu amigo de décadas, Salgado Zenha. Dirão hoje e já o disseram ontem que só ele estava em condições de derrotar Freitas do Amaral. Trata-se de puras suposições impossíveis de demonstração.

Mais tarde, aquando das eleições presidenciais em que o candidato do PS era Manuel Alegre, seu amigo do coração, e tendo a direita Cavaco como candidato, MS de novo se rebelou contra o PS e o seu amigo, quando era necessário tudo fazer para levar Alegre à 2ª volta. Deu uma ajuda preciosa para colocar na Presidência uma personagem da estirpe de Cavaco que veio a recusar a indigitação de António Costa como primeiro-ministro.

Resolveu concorrer como cabeça de lista ao Parlamento Europeu, depois de tantas trapalhadas, na vã expectativa de poder vir a assumir algum cargo na UE que lhe continuasse a dar o destaque com que queria viver politicamente. Um verdadeiro desastre.

É curioso que um dos seus gestos mais nobres e valiosos foi seguramente a sua frontal oposição à invasão do Iraque, a qual raramente é referida nas exaltações de MS. Percebe-se, muitos dos que hoje o elogiam sentir-se-iam muito mal se o referissem. É que embarcaram e defenderam o monumental embuste da existência de armas de destruição massiva no Iraque e causaram a morte de meio milhão de iraquianos.

Os dirigentes do arco governativo encostam-se à figura de MS, invocando o seu europeísmo num momento em que a UE segue a rota dos EUA, sem dar sinais do mínimo de visão estratégica para a guerra na Ucrânia. Aceitam acefalamente as imposições dos euroburocratas ao serviço do neoliberalismo, com a impetuosa von der Leyen como cabeça de cartaz. Dá-lhes jeito a figura de Mário Soares. Vale a pena notar que tudo se passa entre as gentes do arco governativo. O que vem do europeísmo de Bruxelas são medidas de austeridade em contraste com a loucura dos lucros do setor financeiro. Nas ruas não há entusiasmo. Que diria MS à crise das democracias europeias?

https://www.publico.pt/2024/12/11/opiniao/opiniao/centenario-nascmento-mario-soares-contracorrente-2115237

Um novo partido único europeu?

Os media noticiaram que Pedro Espírito Santo, responsável pela campanha eleitoral do PS para o Parlamento europeu e assessor de Marta Temido no Parlamento Europeu, deixou o gabinete da eurodeputada e foi para o do Comissário Europeu das Parcerias Internacionais, o checo Josef Síkela que integra o grupo do P.P.E., da direita, onde estão filiados o PPD e o CDS.

P. Espírito Santo, segundo o jornal Público, mantém-se filiado no PS. Ainda segundo o mesmo jornal, M. Temido não fez comentários sobre a notícia.

O P.P.E. é o maior grupo parlamentar do P.E. Ursula von der Leyen também é deste grupo, assim como Roberta Metsola. Kaja Kallas do grupo Liberal é a Alta Representante para os Negócios Estrangeiros e Política de Segurança. António Costa, Presidente do Conselho Europeu, é do grupo dos socialistas. Ele e Kallas e Marta Kos, Comissária para o Alargamento, inauguraram o seu mandato indo a Kiev reconfirmar o apoio a Zelenski e Cª.

Resulta daqui que na UE os partidos têm uma espécie de base comum – o neoliberalismo, o cimento unificador, sendo a austeridade e o défice de 3% a pedra de toque do edifício desta “União”, assim como o servilismo perante os EUA, consubstanciado num novo belicismo europeu.

Nesta base, o salto com um bom paraquedas de Espírito Santo do PS para o grupo do P.P.E. é normal. São todos muito parecidos e as ideias que contam são as do partido único que está ao comando da UE e é composto pelos grupos dos partidos das várias direitas (mais ou menos clássica), dos socialistas e mais uns tantos relativamente indefinidos, mas definidos no tocante a este tipo de europeísmo. A viagem de Costa a Kiev é um exemplo perfeito da política do partido único no que toca à política de paz e segurança europeias e de defesa da corrida às armas.

A este nível, a política da UE consegue fazer do continente europeu uma terra onde os europeus não contam, sem qualquer rasgo que assegure aos povos e aos países do continente um plano de paz através de negociações que impeça a continuação da guerra, cujo o preço em vidas é pago com o sangue dos ucranianos e em despesas com o dinheiro empregue nos EUA pelos dirigentes deste partido único da UE na compra de armamento e na energia cinco vezes mais cara do que a da Rússia.

Durante décadas as democracias populares do Leste europeu foram atacadas por serem regimes de partido único. Os seus dirigentes respondiam que naqueles países havia muitos outros partidos, o que era verdade, não o sendo, pois eram todos iguais ou parecidos. Na UE também há muitos, mas como se vê até podem trocar de grupo político e manter a filiação que dá tudo igual neste sistema de partido único ou de partidos muito similares.

A notícia diz respeito a Espírito Santo, amanhã será de outro vindo de outro partido para outro. Assim vai a política europeia: saber quem paga melhor ou mais e sempre ao serviço do Grande Partido e dos partidos do outro lado do Atlântico, mesmo quando todos os sinais aconselhavam outra política. A UE é, na versão dos seus dirigentes, um grupo alargado de burocratas com graves distorções oftalmológicas, mas famintos de poder e de rendimentos superlativos.

Zelenski- que las ay, ay

Zelensky já não sabe o que há dizer face ao descalabro em que se encontram as FFAA ucranianas e os seus apoiantes da OTAN.

Pode-se compreender a sua difícil situação. Embarcou no comboio de Biden/Boris Johnson(lembram-se) Stoltenberg/ Ursula von Der Leyen/Macron/Scholtz e tutti quanti.

Trocou os interesses profundos da Ucrânia pelas promessas de um futuro na partilha da Rússia. Foi o que se está a ver.

Vem agora candidamente propor a paz pela adesão da Ucrânia à OTAN. Foi exatamente o projeto de integração na OTAN que levou à guerra. Goste-se ou não de Putin, ele foi sempre claro, afirmando em múltiplas ocasiões que não admitiria a OTAN na soleira da Rússia.

Os EUA, a Ucrânia, a UE e Cª sabiam que a Rússia iria para a guerra. Queriam todos a guerra com objetivos diferentes.

O Ocidente apontava ao desmembramento da Rússia com o fim do regime de Putin e cortando a Rússia da Europa. As sanções nunca vistas e o sangue ucraniano derrotariam a Rússia, como nos garantiram até à náusea.

A Rússia porque era não só a forma de impedir ficar com uma fronteira com os 32 países da OTAN, mas também porque assumiria um novo papel  no sistema de segurança europeia e mundial, abrindo os portões do multilateralismo e o início do fim da hegemonia de Washington no mundo.

A última proposta de Zelenski é algo, no mínimo absurda, sem sentido. Quando a Rússia se encontra em boa posição para vencer, propor como solução para o conflito o que deu origem à guerra, é de quem já não sabe o que há de dizer. Zelenski já não tem ideia acerca de como sair do labirinto onde se enfiou, acreditando que o Império lhe conferiria um novo poder no Centro e no Leste europeu. Que las ay, ay, pero…

As duas camaradas

Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, felicitada por Roberta Metsola, presidente do Parlamento Europeu Yves Herman / REUTERS

As duas mulheres não escondem o que lhes vai na alma. Não há máscaras. Os semblantes descarregam as emoções do triunfo.

A linguagem corporal das duas damas revela-lhes a natureza da alma. Os sorrisos são idênticos; os quatros braços é como se fossem articulados por um único cérebro.

Os postos a que foram alcandoradas já não lhes fogem, dizem-nos elas. Disso estão seguras. A espera deve ter sido terrível.

  A dona Ursula perdeu a compostura de aristocrata que ordenou a execução do urso que matou um dos seus cavalos. Abraça Metsola com toda a carga sentimental humana que esconde oficialmente, salvo quando cai nos braços de Zelenski.

Ninguém as elegeu. Ocupam os cargos por negociação de bastidores entre famílias políticas que dominam a União Europeia. Como excelentes e pérfidas burocratas receberam o prémio pelo qual tanto pelearam. Ufa, exclamam.

Irmanadas no belicismo europeu, sentem confiança na estrada que escolheram e pela qual se guiam. Distantes da vida dos cidadãos europeus já podem ir para os seus gabinetes congeminar os benefícios da indústria da Defesa em detrimento das políticas sociais. O que lhes vai na alma jorrou e vê-se. A alegria delas é muito provavelmente a tristeza das mulheres dos países da União Europeia. E dos homens. É triste tanta satisfação incontida.

A guerra na Ucrânia e o caminho para a paz negociando

Uma das maiores mentiras da História foi engendrada nos EUA com apoio do Reino Unido, da Espanha e dos mandarins de Lisboa que ofereceram os Açores para a grande vergonha nacional e o embuste mundial.

George W. Bush, republicano, Tony Blair, trabalhista da Internacional Socialista, Aznar, conservador do PP espanhol, Durão barroso e Paulo Portas da defunta AD, agora ressuscitada, mentiram ao mundo, bem sabendo que mentiam. O importante era destruir o Iraque, tirando Saddam Hussein do poder. Ilegalmente. São responsáveis por centenas de milhar de mortos e feridos, mais de 500 000. Se houvesse justiça, já tinham sido julgados. Estes valores ditos ocidentais tresandam a petróleo.

Agora, depois da invasão russa da Ucrânia, os EUA, a OTAN e a UE, em coligação declararam que a única saída era derrotar estrategicamente a Rússia. Nem podiam ouvir falar de negociações. Era para eles como o diabo ouvir falar da cruz. Mais – amaldiçoavam quem falasse de paz. O Papa era difícil amaldiçoá-lo, mas Erdogan, Lula, Ramaposa, Modri, XiJiping, entre outros, foram-no pela Santíssima Trindade capitaneada pelo incapaz Biden, a estrepitosa capitã alemã, Ursula von Der Leyen e o inenarrável Stoltenberg, o jardineiro espanhol e até António Costa.

Nesta senda, houve até um ministro do anterior governo que se prestou ao ridículo de garantir que se Putin viesse de férias a Portugal seria detido.  

Neste tempo de delírio juraram a pés juntos que a Rússia tinha de ser derrotada e sê-lo-ia.

Era o tempo das constantes invenções a preços de tostões. Algumas: Os russos tinham espingardas do tempo da 1ª guerra mundial, mas não tinham botas que chegassem; passavam fome ou comiam carne de cão; iam ficar sem frigoríficos para terem chips para os mísseis; Putin tinha cancro terminal; faltavam-lhe mísseis e drones…

Damas e cavalheiros ufanos desfilavam nos media dando-nos conta que a derrota da Rússia chegaria em breve. Todos os quadrantes ideológicos das direitas, socialistas, social-democratas, conservadores, liberais e outros que tais numa Santa Aliança asseguravam a derrota da Rússia. Até um novo belicismo feminista se criou com as senhoras primeiro-ministro da Dinamarca e da Finlândia, a MNE da Alemanha Annalena Baerbock, a nova Alto Representante para os Negócios Estrangeiros Kaya Kalla, a maltesa Roberta Metsola, Presidente do Parlamento Europeu, e naturalmente a candidata frustrada a Secretário-Geral da NATO, a senhora Ursula.

Junte-se-lhes Nuno Melo e o senhor Almirante Gouveia e Melo que embora almirante se prepara para outros voos e a mistura é de relevo; aliás o senhor almirante andou a ver debaixo do gelo, na Gronelândia, por onde andavam os russos a tiritar de frio..

Às dezenas, nos ecrãs das várias televisões, dia e noite, comentadores com ar sisudo declaravam as estonteantes vitórias da NATO/EUA/UE. Se se recordam, à Ucrânia só faltavam os tanques XPTO, depois os F16, depois os mísseis de longo alcance e depois as minas antipessoais e depois a entrada das botas da NATO na Ucrânia e depois, depois.

Quem não alinhasse nestas verdades indesmentíveis por serem ocidentais e cheiinhas de valores estava ao serviço do grande Diabo de Moscovo.

O Ocidente é o novo Notário dos valores liberais, a quem devemos tudo o que somos e o que não somos. Graças ao Ocidente, Benjamin Netanyahu pode continuar o edificante genocídio dos palestinianos na Faixa de Gaza e depois na Cisjordânia. Já antes a NATO bombardeara a Líbia para se apoderar dos valores do petróleo. Mais tarde contra o direito internacional forjaram a independência do Kosovo para enfraquecer a Sérvia e para tanto levaram a cabo 78 dias de bombardeamentos altamente misericordiosos como são os da NATO com urânio empobrecido.

É este Ocidente que, sem o menor pingo de vergonha, que prega o belicismo como forma de vida. Isto porque vêm aí os russos: eles com um território de17 milhões de quilómetros quadrados desde o Ártico ao Extremo-Oriente com os seus 145 milhões de habitantes não têm território que chegue…Não lhes chega. A Rússia precisa da Finlândia a quem Lenine por referendum reconheceu a independência. E querem chegar a Lisboa e tomar este quadradinho. E a Malta. E a Alemanha. Tudo com 145 milhões…contra mais de 500 milhões…é obra…só o demónio.

E andam as pessoas pelas ruas num estado de inércia, passivas, anestesiadas a olharem os heróis da bola e os famosos, e os governantes a pregarem os cortes sociais para empobrecer as populações e a engordarem os donos das fábricas da morte.

E se repararmos os povos e as próprias elites fecharam-se de tal modo que não há qualquer movimento a defender a paz na Ucrânia. Tudo zombie. A fazer de conta que não é connosco, mas é.

Se repararem a narrativa destrambelhada da derrota da Rússia mantém-se. Quase ninguém fala de paz.  A paz é uma subversão da doutrina oficial ocidental.

E, no entanto, o mundo, o tal resto, move-se e manda o Ocidente às urtigas e compra e vende com a Rússia o que lhe interessa. Até a UE já compra petróleo e gás à Rússia.

As mais de 17 mil sanções aplicadas à Rússia deixaram a Alemanha, o Reino Unido, a França e a UE em recessão e a impor aos povos a inflação e cortes no nível de vida.

Os dirigentes da UE afirmam-se de cócoras diante dos EUA. Já desistiram da Europa. Já abandonaram o sonho de termos na Europa uma política de paz e cooperação dos Urais ao cabo Raso, sem que nenhum país se sinta ameaçado, pois a segurança de todos depende da segurança de cada um.

A Europa está em decadência. Fecha os olhos ao carniceiro de Telavive e atira fogo para o conflito na Ucrânia. Até a insignificância do Reino Unido se agiganta com um nível de vida a recuar para os anos 50 do século passado, tal o caminho neoliberal dos Tories e dos Trabalhistas. O RU é hoje irrelevante. Vive da City e dos pechisbeques em torno da família real e irreal.

O neoliberalismo precisa de matar a esperança no nosso futuro comum. Tatcher negava a existência das sociedades. Só havia indivíduos, dizia. O narcisismo e a passividade passaram a ser uma estranha forma de vida. Falta a faísca que trará o sentido da vida aos indivíduos e às sociedades onde estamos irmanados. A guerra mata. A paz salva. A guerra dá triliões aos donos da morte. A paz traz cultura e felicidade.  Pela paz é o caminho.