Gira, el mundo gira

Admite-se a dificuldade em acompanhar as grandes mudanças no mundo. Normalmente é mais fácil seguir o curso normal. Porém, o curso normal das coisas não é seguro. Muda, às vezes. Estamos a assistir e a participar num desses momentos de mudança. O que levou o nosso Camões a dizer que – todo o mundo é composto de mudança, tomando novas qualidades – e cá vamos nós atrás das mudanças que outros vão à frente.

A guerra nunca teria acontecido se a Rússia não tivesse invadido a Ucrânia e os EUA /UE/Zelenski não quisessem a invasão/guerra. Os ucranianos davam o sangue, a UE o apoio material (em boa medida) e os EUA alimentavam-na com sua poderosa máquina de guerra. Daí ser uma guerra do Ocidente por via dos proxys ucranianos que dependiam dos EUA em matéria de armamento.

Se recuarmos no tempo, os dirigentes ocidentais, designadamente os da UE posicionam-se hoje em frontal contradição com as suas declarações a garantir que não havia espaço para negociações e a Rússia teria de sofrer uma derrota estratégica. Em todos os media, salvo três ou quatro honrosas exceções, esta era a verdade única, a que podia ser difundida e foi ad nauseam.

A arrogância ocidental atingia o pico himalaiano. Os russos nem sequer tinham botas e as armas eram da 1ª guerra mundial. E provavelmente muitos daqueles fazedores de opinião acreditavam no que diziam, tão grande era, por que não dizê-lo, a sua burrice e, nalguns casos, a cretinice.

Esta guerra contribuiu para mudar o mundo. Os que a viam, perdidos no tempo dos filmes sem som e a preto e branco, não têm agora capacidade (talvez alguns mais refinados não queiram) de encarar a novidade no mundo. Ainda vivem no mundo hegemónico ocidental.

Os que seguiam os EUA para onde quer que eles fossem, não compreendem que o papel dos subservientes é serem-no e assim está cumprido o seu papel. Quando já não servem, são descartáveis. A História demonstra-o.

O aparecimento de um novo chefe de fila do grande Império com ideias iguais às do ex-chefe, mas com um caminho diferente para manter a hegemonia, baralhou os súbditos e deixou-os a esbracejar e a fazer proclamações ocas e próprias, na linguagem de Nitzsche, da décadence evidente partout.

António Costa, refiro-o por ser de cá do burgo, passou o seu tempo enquanto Primeiro-Ministro a proclamar que a Rússia tinha de ser derrotada. Ele e o seu governo. Ele e quase todos os dirigentes do PS. Ia atrás da Sra. Ursula, do Sr. Scholtz, do Sr. Macron, do Sr. Riki, do Sr. Steimer, do Sr. Borrel, do Sr. Stoltenberg e do atual Sr. Rutte e da Sra. Kaya Kallas e de tutti quanti.

O Sr. Presidente do Conselho Europeu acordou ontem no meio de esta longa letargia para vir acusar a Rússia de não querer negociar e, por isso, era preciso obrigá-la a negociar…Depois de terem prometido a Zelenski que se não assinasse o Acordo de Istambul, lhe daria todo o apoio as long as it takes.

Esta nata de dirigentes da UE são irresponsáveis e movem-se num mundo paralelo à realidade material. É de admitir que se sintam fora do tempo. Só que não voltam para dentro do tempo e continuam a correr numa realidade paralela e abusivamente a tentar impor às nações da UE e aos povos destas nações o fardo do partido da guerra.

Abraçaram – socialistas, liberais novos e antigos, populares e democratas-cristãos, certos verdes e outros de outras cores – o partido único, o partido da guerra.

Já nada têm a propor à Europa, a não ser a guerra. A Alemanha rearma-se e a França assusta-se. Macron está de partida. Mertz tem 30% e sem o SPD e os Verdes não anunciaria o que anunciou. Falou em 800 000 milhões para armas, grande parte delas para comprar aos EUA…

O rearmamento da Europa não é só para dar cobertura à russofobia; destina-se a manter os povos em estado de alienação e tentar cada uma das potências ficar com mais poder que a outra. A NATO quanto tempo durará? Sem o cimento do patrão…

Trump tenta dividir o eixo Rússia/Irão/China. O novo imperador trata de se ocupar de outros assuntos dada a quase insignificância da UE com tais senhoras e cavalheiras à frente dos seus destinos. Trump “compreendeu” que a escalada na guerra atingiria perigosamente o patamar nuclear. A UE, como não dispõe tal armamento, afirma-se como um garnizé frente ao galo da capoeira. Por isso, a UE está como está, com governos minoritários à espera de fazer aceitar o que já muitos aceitam, a extrema-direita.

Nem nestas circunstâncias, únicas para fazer a diferença, a UE e seus dirigentes são capazes de confiar nos povos respetivos e mobilizá-los para fazer do nosso fantástico continente um continente de paz, harmonia, liberdades, direitos, com um ambiente sustentável e de cooperação com todos os povos do mundo numa plataforma de segurança para todos, ucranianos, russos e todos, mesmo todos. Essa seria a melhor defesa da Europa. Os russos vieram a este lado da Europa para derrotarem em Berlim Hitler e a Paris atrás do exército napoleónico e regressaram de imediato. Os que vivem na Europa são europeus, desde Lisboa aos Urais. A Europa precisa de paz e cooperação para ser diferente e importante no mundo.

UM TRAPACEIRO É UM TRAPACEIRO

Vamos assistindo incrédulos ao cortejo da obstinação de Luís Montenegro em permanecer silencioso sobre as suas avenças diretas ou indiretas de entidades privadas. O seu governo está disponível para lhe dar cobertura em não reconhecer que, como Primeiro-Ministro, não podia auferir essas avenças, uma delas, pelo menos, com interesses dependentes do Estado. Ponto final parágrafo.

Como Montenegro não quer dar explicações acerca desta conduta e como sabe que ficou e ficará marcado para todo o sempre por a não esclarecer, foge e leva consigo debaixo do braço o partido e o governo para dar ares de ter apoio – revelando medo – como se uma conduta ilícita pudesse ser branqueada por uma votação eleitoral. Como advogado, bem sabe que não. Quem determina se há um ilícito são os tribunais. Quem escolhe os governantes são os povos.

Há, no entanto, nesta crise algo de misterioso e que leva a fazer a pergunta: por que foge com tanto pavor da Comissão de Inquérito? O que teme? O que se sabe, maculando o seu cargo, não seria caso para a crise que provocou, então de que foge ele e os que o apoiam?

Friamente: há uma ano o PS teve 78 deputados, o PSD e o CDS 78. A aliança da direita ganhou por uma diferença de uns pingos. O PS deixou passar o governo, alinhou na eleição do Presidente da Assembleia da República e votou contra a moção de censura do PCP, salvando o governo de cair. E o Dr. Montenegro exige ao PS que vote favoravelmente a moção de confiança no governo, sendo o partido da oposição por ter tido uns pingos de votos a menos? O Dr. Luís não parou no tempo para ressuscitar a União Nacional de Salazar? Falta apenas arregimentar autocarros e populares e encher o Terreiro do Paço para o aclamar como salvador da pátria e da proteção de dados…

Só adiantados mentais seriam capazes de congeminar que para governarem exigiriam que a oposição desse a sua confiança política a um governo cujo chefe está envolvido em condutas censuráveis, pelo menos do ponto de vista político. Um governo governa. Ninguém o derrubou, Não sendo sequer previsível que viesse a ser derrubado, por que se autoderruba avançando com o pedido de confiança que nunca poderia ter, pois é absolutamente minoritário?

Montenegro anda a brincar aos governos. As pirraças já o impediram de informar o PR o que pretendia com a comunicação ao país. Este por sua vez não lhe atendeu o telefone para que um birrento não ficasse só.

Perdido na preocupação da proteção de dados, Montenegro perdeu o rumo governativo, não atina com um dos primordiais princípios da chamada democracia liberal ocidental – o governo governa, a oposição que não é governo é alternativa/alternância e espera a sua vez. O que faz o governo pedir à oposição a confiança para continuar a governar? Quer autoderrubar-se para alegar que não o deixaram governar, quando ninguém o impediu…O governo quer que a oposição seja sustento da sua política.

 Luís Montenegro navega nos ventos da chantagem política. Sabe que a moção de confiança é o biombo para esconder as eleições que quis provocar e não tem coragem de assumir.

Sabemos que a confiança nas instituições é pouca. Que a esperança em mudar a vida não é grande. Mas um trapaceiro é um trapaceiro. E dar o poder a um trapaceiro é ser corresponsável pela trapaça.

https://www.publico.pt/2025/03/11/opiniao/opiniao/trapaceiro-trapaceiro-2125450

O MUNDO A MUDAR, A EUROPA EM ANQUILOSE

O mundo assistiu, nos últimos setenta anos, a mudanças que outrora necessitariam séculos. Desde a competição entre os sistemas capitalista e socialista, à coexistência pacífica, à implosão da URSS, à ordem internacional unipolar liderado pelos EUA (correspondente ao fim da História), à guerra na Ucrânia entre o Ocidente e Rússia e à reviravolta dos EUA, pretendendo celebrar acordos com a Rússia e em simultâneo declarar guerra comercial aos aliados e tomar conta da Gronelândia e do Canal do Panamá. O caso da NATO é revelador do desnorte que assola do lado Atlântico. É mais fundo do que o que parece. E na própria UE.

O mundo está a adaptar-se a uma nova “ordem” entre o multipolar e as zonas de influências das principais potências.  O Império já não é capaz de impor a sua lei por esse mundo fora.

Os EUA, sendo, embora, a maior potência mundial, enfrentam desafios que os tornam vulneráveis, desde logo uma dívida externa de cerca de 40 triliões de dólares que só não os levam à bancarrota pelo facto de o dólar ser a principal moeda de pagamento internacional.

A economia norte-americana perdeu capacidade competitiva, não obstante nas indústrias tecnológicas ter resultados espantosos como provam as fortunas de Musk, Bezos e Zuckenberg.

A globalização neoliberal virou-se contra os seus impulsionadores. As principais potências capitalistas deram passagem à China com a deslocação das suas principais fábricas para aquele país em busca de superlucros. É interessante assistir ao facto de ser a China a defender a globalização, enquanto Trump pretende fechar os EUA para fazer a America great again que nos termos em que é apresentado é a confissão da incapacidade de competição no plano do comércio internacional. A UE segue no seu declínio: desindustrialização, degradação do nível de vida e a derrota na guerra. 56 milhões de europeus não conseguem ter as suas casas aquecidas.

O homem de extrema-direita que hoje comanda os EUA não virou nem pacifista, nem antieuropeu. Compreendeu que na Ucrânia ou vence a Rússia ou há guerra nuclear e que não consegue derrotar a Rússia que dispõe de maior poder nuclear e de maior capacidade de aguentar o choque devido à sua extensão. Tornou os europeus ainda mais dependentes dos EUA vendendo-lhes armas, desgastando a Rússia, caso prossiga a guerra.

Os ataques aduaneiros já vinham de Biden com Reduction Inflation Act- 2022-   a castigar os produtos provenientes da UE. Agora Trump agrava as tarifas. Já não consegue competir. É aí que dói.

A União Europeia está como que perdida na sua demencial corrida armamentista num contexto de estagnação económica e de graves problemas sociais que se agravarão com o desvio de recursos do plano social para o plano militar. As forças políticas que carregam no carro da guerra não têm a confiança dos povos. Ademais, paradoxalmente alguns países já só governam com aliados de Trump.

As decisões da Comissão, em matéria de gastos com a defesa, em momento algum, foram objeto de anúncio programático eleitoral.  É este o Norte, o da indústria da morte?

Acresce que a “justificação” algo que assenta na psicologia do medo acenado pelos dirigentes ocidentais. Independentemente dos desígnios nacionalistas de Putin, não há nos últimos 500 ou 600 anos invasões russas de países europeus, enquanto a Rússia foi invadida por Napoleão e a URSS pela Alemanha nazi. Nestes últimos trinta anos a NATO participou na invasão do Afeganistão, do Iraque e nos ataques militares à Líbia, à Jugoslávia e continua a ajudar a política genocida de Israel. Não têm lições a dar.

Trump pretende afastar a Rússia da China e neutralizar os BRICS nas suas orientações de desdolarização dos pagamentos internacionais. Deixa cair a tradicional primeira visita ao Reino Unido (mesmo depois do convite do Rei Carlos III) e vai à Arábia Saudita. O mundo mudou. A Europa não muda, anquilosou. Luta entre si e alguns dos países europeus também querem terras e minerais raros e portos de mar. O butim está em disputa.

O supremo prazer das coisas simples

Quando acordei chovia. Passou a chuva. O céu abriu um pouco. Resolvi ir à horta sem as botas de borracha por causa da preguiça de tirar as calçadas e enfiar as de borracha.

Na horta está aquilo que os editores apelidam de obra, ou seja, a criação. A minha esperança estava nas ervilhas tortas e nos grelos de couve naba. Semeara as ervilhas lá longe, em novembro, plantara as couves em dezembro.

A obra estava quase acabada e regalei-me de volta das ervilhas a tirar-lhe a literatura toda que os tutores haviam protegido do maligno vento espanhol. Por debaixo dos pés das ervilhas as vagens escondidas e as mais longilíneas. Prestando homenagem ao avô do meu Pedro irei fritá-las em banha e um nico de azeite com rodelas de salpicão e fatias de pão de milho.

Os pés ficaram tão encharcadas quanto o meu nariz de ar puro da manhã. Com os pés assim, o destino marcou o rumo – apanhar espargos que esta longa chuva os fez saltar da terra onde se escondiam. Tudo se passou num silêncio gótico e vegetal. Os pés ao cheirarem as rodelas de salpicão secaram. Tão simples.

Suicídio em direto na SIC

Não temos uma sala oval, nem zaragatas. Talvez, por isso, o PR achasse que a humilhação do PM em não lhe telefonar antes da Proclamação da Inocência merecesse o gesto absolutamente simpático e cortês de não lhe  atender o telefone, e daí por mera cortesia dar a conhecer ao país o quão Marcelo estima Montenegro, malgré tout.

Dizem que Trump despachou Zelenski, humilhando-o, coitadinho do homenzinho. Marcelo não despachou Montenegro, suicidou-o em direto na SIC. Sem humilhação, apenas com comiseração institucional.

VIVAM AS FEIRAS E QUEM AS APOIOAR

Hoje, num desses hipermercados de referência, descobri finalmente o motivo da minha antipatia por estes “estabelecimentos”. Neste domingo carnavalesco havia magotes de gente cheias de carros de compras até à cabeça. Caminhavam do mesmo modo que rolavam os carros, em silêncio, por entre prateleiras de o que se precisa e de o que não se precisa.

Alguns consumidores levavam os filhos dentro dos carros e um vigilante chamava a atenção ao transgressor pela conduta inaceitável. Tudo isto se passava em voz de plástico para não fazer perder a atenção nas fantásticas promoções de vinhos de terras que não os produziam.

Para sossego dos contribuintes não havia vozes, apenas olhares um pouco incrédulos ou cheios de frustração. Um ou outro exultante.

Giravam as multidões raspando, alguns contribuintes, nas mesas à disposição cartões à espera da sorte que não chegava e silenciosamente esperavam pelo jogo do clube ou da telenovela ou da série. Tudo conforme o pastor dos negócios e das almas semimortas

Ninguém falava a alguém.  No final das compras, uma voz perguntava pelo cartão e pelo NIF, caso necessitasse. 

Num extremo da cidade e no outro ponto da cidade fronteiriça localizam- se as Feiras do Relógio e a da Brandoa.

Ali os humanos falam, gritam, regateiam, dizem brejeirices, param e falam com os vendedores e entre si, como faziam seus pais, avós e bisavós. Sabem que à astúcia do vendedor é preciso dar a volta para a apanhar. Há de tudo, menos o silêncio das almas anestesiadas.

Um cigano vende goiabeiras e outras árvores de fruto. Uma cigana cuecas elegantes para senhoras bonitas, diz ela. Um paquistanês exuberante molhos de agriões. Um indiano mangas e anonas. E grelos frescos que não há na sua terra. Um fulano com a pronúncia das Beiras vende nozes e figos secos.

Até há quem venda pássaros apanhados em armadilhas.

Uma vendedeira ensina quando se plantam os aipos e os morangueiros. Um atrevido pergunta-lhe se pode plantar os tomates atrás dos do marido que os planta primeiro que os seus. Ela manda-o plantar ao pé dos do padre Inácio.

Há bifanas com molho a escorrer e sandes de couratos e copos de vinho e de cerveja.

Há um homem muito magro que ganha algumas moedas a dizer onde se pode estacionar o carro

Há do outro lado da estrada dezenas de aves de capoeira e faisões da senhora que vende galos a africanos como quem vende botões.

O homem que vende ovos diz a um eventual comprador – ontem o jantar foi fracote e cheguei à frigideira, está a ver esta caixa de seis, estrelei-os e não comi mais porque lhe queria lhe queria vender outra.

O silêncio de uma grande superfície é o de do indivíduo solitário sem pertença. É um consumidor com um número fiscal. O movimento da Feira é a prova provada de que somos seres humanos. Vivemos juntos e podemos falar uns com os outros.

A zaragata em direto na Sala Oval, quem escreveu o guião?

O que se passou na sexta-feira dia 28 de fevereiro, na Sala Oval da Casa Branca, entre Trump/Vance e Zelenski é algo inimaginável à luz de critérios de previsibilidade de encontros entre Chefes de Estado ou Chefes de Governos.

 A razão é simples: antes dos Encontros/Cimeiras há um conjunto de altos funcionários de ambos os lados que preparam esses Encontros e quando o trabalho preparatório está concluído, reúnem-se então os Chefes de Estado e assinam os Acordos ou Comunicados ou Declarações Conjuntas.

Se durante os trabalhos preparatórios não há possibilidade de entendimento, não se anunciam as Cimeiras. Ao anunciá-las significa que os trabalhos preparatórios aplanaram os problemas, ultrapassando-os.

 Ora, o que sucedeu na Sala Oval é de tal modo bizarro que obriga a procurar razões para além daquelas que parecem ser à primeira vista ou uma humilhação de Zelensky ou um desafio diplomático de Zelensky ao “Imperador” de Washington.

A situação militar no terreno é muito desfavorável a Zelensky. Trump terá informações que a guerra está perdida e ele não quer aparecer como perdedor da guerra, antes como obreiro da paz, mas sem deixar de garantir um bom negócio para os EUA e seus oligarcas. Já conseguiram pôr a UE dependente da energia dos EUA e separar a Rússia do resto da Europa, o que não é pouco em termos estratégicos.

Seguramente que a ida de Zelenski a Washington foi tratada discutindo todos os pontos do chamado Acordo. Se não havia hipótese de Zelenski assinar, não fazia sentido realizar a viagem. Em nenhum momento a parte ucraniana referiu que não o assinava e daí a viagem a Washington.

Nas conversações de uma hora e trinta minutos é perfeitamente adequado pensar que as duas partes não concordaram e tratava-se de saber o que cada uma iria dizer aos media. Foi a cena com os jornalistas mero improviso para cada um sair por cima a partir do fiasco verificado nas conversações?

Quer Trump, quer Zelenski, saem muito mal no que aconteceu, revelando no mínimo um primarismo político inconcebível, sendo certo que era Zelenski quem mais precisava do apoio dos EUA, a não ser que o PR ucraniano tenha desistido do apoio norte-americano e tenha jogado um jogo perigoso, por falta de cartas, como disse Trump com a sua falta de tato diplomático devido à arrogância congénita.

Imaginando um outro cenário em que Trump e Zelenski poderiam alinhar como bons atores: o Presidente ucraniano iria e regressaria, sem Acordo e com o show em direto a que assistimos, como resistente.

 Trump responsabilizaria Zelenski por não conseguir a paz no período anunciado e o Presidente ucraniano sairia da Sala Oval com a auréola de herói libertador reforçado, ganhando os dois a melhor interpretação no guião, podendo o Óscar ser partilhado.

Neste cenário a guerra continuará e a UE a comprar armas a Trump para prosseguir a guerra que tem em vista enfraquecer a Rússia e a devastação social da UE. Um bingo numa outra perspetiva.

Se, na verdade, o que vimos resulta de um improviso diplomático deste calibre então a coisa fia mais fino e não há justificação para um espetáculo absolutamente indecoroso entre o instigador/apoiante da guerra – os EUA- e o Presidente Zelenski que no seu afã de grande estadista acreditou que as relações entre Estados se baseiam em “performances” comunicacionais.

Como é possível que o Presidente da maior potência mundial, com tropas em todo o lado, se preste a uma discussão, sem desprimor para a saudosa e antiga lota do peixe da “minha” Póvoa de Varzim, daquele teor, ou similar a dois adeptos clubistas a discutir os penaltis “roubados”.

Esta ida de Zelenski a Washington traz água no bico ou então a estatura do homem não passa a de comediante que à falta da capacidade de congregar esforços para continuar a guerra do seu país vai a casa do patrocinador dizer-lhe o que ele tem de fazer, julgando que sai em grande, como se vê pela reação dos dirigentes da União Europeia que acreditam que a sua vontade é capaz de alterar o rumo da guerra.

A continuação da guerra não é a melhor notícia, embora, Zelenski tenha chegado a Washington frágil, e de lá saiu ainda mais. A Ucrânia estará prestes a sucumbir.  Ninguém acredita que Macron e Starmer tenham poder para reverter a situação, tanto mais que estão disponíveis a enviar 30 000 soldados desde que os EUA se comprometam com a sua segurança, como fizeram constar quando foram pedir proteção a Trump durante a semana, o que não conseguiram.

Resta aguardar. Com estes personagens quase nada surpreende. Neste cenário fica muito difícil perceber o fito de Zelenski. O de Trump é o de buldózer, mas atenção é ele que tem as cartas.  

O julgamento de Ricardo (Espirito Santo) Salgado é um espetáculo de farsa politica com a cobertura de legalidade proporcionada pelo sistema judicial e encenado pela comunicação social.

A justiça do Estado sacode as pulgas do tapete para assegurar o regime de capitalismo de papel e especulação. Os políticos do regime fazem de macacos cegos surdos e mudos. A indústria do espetáculo aproveita o espetáculo grátis e aumenta as audiências. O povo aplaude e compra os produtos anunciados nos intervalos. No entanto está em causa o julgamento do sistema financeiro que é o fundamento do capitalismo, seja ele gerido por democracias liberais ou ditaduras. Um sistema implantado no final do século XVII pela família Rothschild.

Deixem-me emitir e controlar o dinheiro de uma nação e não me importarei com quem redige as leis.

Mayer Amschel (Bauer) Rothschild, o fundador da família

Todo aquele que controla o volume de dinheiro de qualquer país é o senhor absoluto de toda a indústria e comércio, e quando percebemos que a totalidade do sistema é facilmente controlada, de uma forma ou de outra, por um punhado de gente poderosa no topo, não precisaremos que nos expliquem como se originam os períodos de inflação e depressão.

James Garfield, presidente dos Estados Unidos, 1881(assassinado)

Por detrás deste espetáculo do julgamento de Ricardo Salgado encontra-se a relação de dupla dependência entre a política e a finança anunciada no final do século XVII por Mayer Amschel (Bauer) Rothschild, o fundador da família que criou o sistema bancário que da Europa, através do Banco de Inglaterra, expandiu para os Estados Unidos, onde se associou à família Rockefeller e que está na base do FED, a Reserva Federal Americana. O sistema que os Espirito Santo e os outros banqueiros utilizaram e utilizam para obter lucros assenta no que pomposamente se designa por fractional reserve lending, (FRL) ou “empréstimo baseado numa reserva fracionada”, ou “empréstimo sem cobertura ou base real”. Embora de enunciado complexo, a prática é muito simples;significa emprestar mais dinheiro do que está em caixa e transformou-se na maior fraude legal de todos os tempos.

O sistema bancário de reserva fracionada é o que vigora em todos os países do mundo, no qual os bancos que recebem depósitos do público mantêm apenas parte de seus passivos de depósito em ativos líquidos como reserva, geralmente emprestando o restante aos tomadores. As reservas bancárias são mantidas como dinheiro no banco, ou como saldos na conta do banco no banco central.

A família Espirito Santo foi a que primeiro e mais intensamente interpretou estes princípios em Portugal e os impôs ao poder político, desde o fundador da família ter evoluído de dono de uma casa de câmbios até os seus filhos surgirem como os banqueiros do regime de Salazar e desempenharem um papel político de primeira grandeza no Portugal do Estado Novo durante o período crucial da Segunda Guerra Mundial, colaborando na manutenção do difícil equilíbrio entre os aliados ingleses e a Alemanha nazi.

Os Espirito Santo, a quem a imprensa da época chamava “os Rockefeller de Portugal”, ofereceram refúgio às realezas fugidas da guerra, entre eles os condes de Paris, com os seus dez filhos, os condes de Barcelona, o rei Humberto de Itália, e o mais significativo de todos, o Duque de Windsor que acabara de abdicar do trono em Inglaterra, apesar de essa presença ser delicada para o regime de Salazar por prejudicar a sua pretensa neutralidade e de também não ser do agrado Churchill dadas as simpatias pro germânicas do duque ex.rei.

Ricardo Espirito Santo, o herdeiro do fundador, culto e muito amigo de artistas, tinha as costas quentes, era casado Maria Pinto de Morais Sarmento y Cohen, filha de un banqueiro de Gibraltar, Abraham Cohen, britânico de origem judaica, e sobrinha do barão de Sendal e através deste casamento os Espirito Santo conheceram e fizeram amizade com toda a realeza exiliada em Cascais e com as suas redes de influência.

O Banco Espirito Santo era, de todos os bancos portugueses, o mais internacionalizado e o que tinha mais fortes ligações ao Estado. A sua nacionalização em 1975 não quebrou a influência da família na política portuguesa, nem quebrou a ligação da família ao mundo da grande banca internacional. Pertenci à Assembleia do MFA do dia 11 de março de 1975 que aprovou a nacionalização da banca. Consciente da importância da banca na definição do poder político. Sofri as consequências dessa opção no 25 de Novembro de 25 de 1975, assumindo-as como naturais da parte dos que optaram pelo regime de “mercado” e pelos seus financiadores.

O 25 de Novembro de 1975 e o seu programa de integração de Portugal na ordem política e económica vigente na Europa Ocidental, implicava as privatizações indispensáveis à recuperação do poder das velhas oligarquias e da ascensão das novas, exigia a criação de novos bancos, caso do BCP e do BPI e aconselhava o regresso da marca mais prestigiada internacionalmente, a que garantia a credibilidade do novo regime. Mário Soares percebeu a importância do regresso de um nome tão prestigiado e com tão boas relações no mundo da finança internacional e promoveu o regresso da família Espirito Santo a Portugal, o que foi conseguido através dos bons ofícios de Francois Miterrand com a associação ao Crédit Agricole.

Há razões nunca explicadas por detrás da “resolução do BES” e as principais não são aquelas que se encontram no julgamento espetáculo. Com todo o respeito pelos lesados do BES, que viram sumir as suas economias e exprimem o seu protesto contra a figura de Ricardo Salgado, há que explicar se foi o Estado Português que propôs a resolução do BES à Comissão Europeia, ou se foi dela a imposição dessa medida jamais utilizada. Não havia alternativa? Não havia o exemplo do Lehman Brothers, da seguradora AIG, não foi encontrada recentemente uma outra solução para a União dos Bancos Suíços?

O BES era o único banco privado com “nacionalidade portuguesa”, embora associado ao Crédit Agricole francês. Todos os outros bancos que resultaram da reprivatização tinham passado para o controlo da banca espanhola, de capitais ingleses, americanos, alemães. Todo o sistema bancário português tem a sede em Espanha, em Madrid ou Barcelona. O sistema bancário português está hoje integrado no sistema mundial através de Espanha, o chamado “mercado ibérico”.

O BES tinha, por tradição, o papel de banco do regime, fora o banco que assegurou a transferência do ouro alemão que pagou o tungsténio, o volfrâmio, durante a Segunda Guerra, por exemplo. Nos anos anteriores à resolução era o BES que estava a financiar a implantação de grandes companhias portuguesas no Brasil e em Angola, dois mercados emergentes e muito cobiçados pela finança internacional, em particular a inglesa e a francesa. Era o BES que financiava a implantação da TELECOM no Brasil, uma ação importante de presença num grande mercado em expansão no continente sul-americano, e era o BES que estava a financiar através de uma filial, o BESA, o apoio a empresas portuguesas no mercado de Angola, outro espaço cobiçado pela banca internacional.

O BES intervinha na diversificação dos mercados de grandes empresas portuguesas em mercados importantes em concorrência com os grandes bancos europeus que têm, como é evidente, um peso de lobbying incomparavelmente superior junto de Bruxelas e dos seus financeiros. Era um concorrente a eliminar e assim foi.

Todo o negócio bancário se baseia na usura, toda a utilização do capital para obter lucro é abusiva, isto porque o lucro é obtido com a venda de um produto que não tem base material, que existe apenas porque as autoridades de um dado estado garantem que o banqueiro, o moneychanger, é de confiança e honrará o compromisso de pagar os juros aos depositantes.

O BES sob a administração de Ricardo Salgado vendeu mais dinheiro do que aquele que podia remunerar aos juros acordados. E fê-lo coberto pela reputação de confiança que lhe era e foi publicamente demonstrada pelas mais altas figuras do Estado, o presidente da República, Cavaco Silva, tido por eminente professor de Finanças, pelo primeiro-ministro Passos Coelho, pela ministra das Finanças, Maria Luís Albuquerque, recentemente nomeada pelo atual governo comissária europeia, pelo governador do Banco de Portugal, a entidade reguladora, Carlos Costa, pelos mais conceituados comentadores políticos com acesso aos mais poderosos meios de comunicação, caso de Marcelo Rebelo de Sousa. Todos serviram de fiadores de Ricardo Salgado! Todos e todos os ministros que assinaram a ata do Conselho de Ministros que decretou a “resolução” do BES deviam responder em tribunal e serem corresponsabilizados pelos prejuízos.

O BES foi também a instituição escolhida pelo ministério da Defesa dirigido por Paulo Portas para conduzir as operações financeira de leasing que esteve e está na base do fornecimento dos helicópteros EH 101 e dos submarinos da classe Tridente, que pertencem formalmente a uma empresa e não ao Estado Português. Um banco da maior confiança do Estado e dos seus governos, de que nenhum agente político desconfiou, antes pelo contrário afiançou.

O que aconteceu ao BES, ou no BES, foi, em termos simples um excesso do abuso de confiança dentro de um sistema, o bancário, que assenta num contínuo abuso da confiança instituído pelos Estados que obrigam os cidadãos a confiar nos usurários (os banksters) para terem acesso aos bens essenciais, desde a habitação ao transporte, à alimentação, à educação, ao lazer. Quem estabelece o valor dos bens são, em última instância, os banqueiros que em Washington e na Wall Street de Nova Iorque impõem o valor do dólar como moeda de troca universal. São eles que estabelecem a inflação que gera lucros aos banqueiros e prejuízos aos clientes. São eles que desencadeiam crises e guerras para manipular o valor do dinheiro.

Agora, no Big Show BES, tudo se vai resumir a artigos dos vários códigos diante de um tribunal que interpretará factos contabilísticos, considerando-os crime ou não à luz dos seus preceitos, quando a questão era e é de política e os políticos estão todos eles a fazerem-se de mortos. Ou praticaram o rito judaico do Kaparot, realizado nas vésperas do Yom Kippur, uma expiação simbólica dos pecados, em que milhares de galos e galinhas são degolados em Israel e o sangue derramado pelas cabeças. Um ritual de arrependimento e perdão.

Numa entrevista ao Público, Vitor Bento, o administrador do BES na data da sua resolução e é hoje o presidente da Associação Portuguesa de Bancos, garante que o que aconteceu ao BES não aconteceria hoje e que o sistema bancário português está mais controlado e merece confiança. É uma afirmação paliativa, como garantir que não vai ocorrer um terramoto.

O sistema financeiro mundial baseado no dólar está em equilíbrio periclitante. As guerras na Ucrânia e no Médio Oriente têm como causa a manutenção do dólar enquanto moeda de troca universal, o que implica força para o impor e é essa força que está a ser desafiada nessas guerras e é do resultado delas que depende a solidez do sistema bancário da área do dólar, que está a sofrer a concorrência das moedas dos BRICS.

O julgamento de Ricardo Salgado conduz à triste conclusão de que no capitalismo os cofres dos bancos contêm papel que tem o valor que a Reserva Federal dos Estados Unidos lhe atribuir e que os Estados nacionais atestam com a assinatura do governador do banco nacional. Nenhum cidadão sabe o que significam os algarismos do seu extrato bancário.

Alguém decidiu que as “obrigações” emitidas pelo BES eram papel sem valor e eram, mas resta a pergunta, porque elas, porque aquelas? Porque ninguém do BCE em Franckfurt ao Banco de Portugal em Lisboa viu o que se estava a passar no BES? Essas perguntas jamais serão colocadas em tribunal.

O espetáculo no Campo da Justiça, centrado na figura de um vencido que gera sentimentos de vingança a vários níveis, a do poderoso arrastado para o cadafalso, também esconde a vileza das ratazanas políticas que continuam a representar o seu número de macacos cegos, surdos e mudos.

Já agora, não há lesados no caso BPN, dos amigos de Cavaco Silva, nem do BANIF da Madeira.

https://cmatosgomes46.medium.com/o-julgamento-de-ricardo-salgado-big-show-bes-7861cc357d4f

Algumas conclusões sobre 3 anos de guerra na Ucrânia

Uma invasão de um país por outro tem obrigatoriamente de ser condenada, seja onde for. Não há boas invasões, nem invasões anti-imperialistas.

Por outro lado, uma invasão tem, um quadro que a caracteriza e, de certo modo, a “explica”.

Quando Zelenski, após o derrube ilegal do Presidente Yanukovich, deu o passo para a Ucrânia entrar na NATO sabia que uma tal decisão acarretaria um confronto com a Rússia.

Basta ler as declarações de dirigentes ucranianos, norte-americanos e do Think-Tank do Pentágono “ Rand Corporation” para se ficar a saber, não podendo ser ignorado que a guerra a partir deste ponto era desejável para todos Uns davam o sangue, outros as armas. Está dito e escrito. Ignorá-lo é pura manipulação.

William J. Burns, ex-embaixador dos EUA em Moscovo e ex-Diretor da CIA, alertou para os perigos de um tal plano, apontando para o desastre numa eventual derrota.

A Rússia invadiu a Ucrânia e a guerra instalou-se há três anos no Leste europeu. Podia ser diferente, lá poder podia, mas não foi.

Sendo condenável é preciso compreender as responsabilidades de cada ator e de cada parte na guerra.

Todos sabiam que as suas posições levariam à guerra. Por muito menos, na crise dos misseis em Cuba, o mundo esteve à beira da guerra mundial.

O que não se pode deixar de referir, por amor à verdade, é que esta guerra nunca foi nem é entre a democracia e a autocracia. Nem a NATO é exemplo de democracia, desde logo na sua fundação incorporou o regime fascista de Salazar.

Aquilo a que no Ocidente chamam a Ucrânai democrática. nasce de um golpe de Estado conduzido por uma dirigente dos EUA, Vitoria Nodlung que queria  fuck UE, bem divulgado em todo o lado. Iniciou uma perseguição impiedosa às esquerdas. Aos movimentos sindicais. Proibiu o russo onde as populações eram maioritariamente russas e com os nazis Banderistas criou legiões de forças militares preparando-as para a guerra.

A UE aceitou todo o plano dos EUA/NATO para desmembrar a Rússia e fez procissão com o Império para enfrentar o outro lado da potência emergente com Putin. A potência gasolineira, no dizer de Obama, deu origem a outro país que se sentia em condições de enfrentar os EUA e a NATO.

A questão da luta entre a liberdade e a ditadura fica às escâncaras quando se olha para o conflito na Palestina. A UE segue apoiando o genocídio palestiniano. Nem uma sanção a Israel. Nem uma fisga para os palestinianos.

O que fez o Ocidente correr em socorro de Zelenski foi a oportunidade histórica de eliminar a potência russa. Caso contrário, em 2003, em vez de enviar militares para o Iraque, colocar-se-ia ao lado do invadido no Iraque. Ou ao lado dos palestinianos contra a ocupação israelita.

 A principal arma ocidental eram as sanções. Falharam. Prometeram a cabeça de Putin. A narrativa ocidental desde parte da extrema-direita, toda a direita e toda a social-democracia e o todos os liberais alinhou na guerra.

É flagrante o contraste com a causa palestiniana. Que está a UEE disposta a fazer para a criação do Estado palestiniano? Quantas vezes foi e está disposta a ir a Ramalah declarar o apoio incondicional à Palestina?  

N a Ucrânia, os EUA negociam com a Rússia e a razão é muito simples: são em termos militares quem conta. Vão partilhar a Ucrânia? Talvez. Pode estar-se de acordo com a partilha? Na Conferência de Berlim no final do século XIX a Europa partilhou África sem os africanos e certamente não é isso o que deve acontecer na Ucrânia. Mas quem, por cada segundo passado ao longo destes três anos, anunciou a derrota da Rússia merece que se pergunte o porquê deste discurso, incapaz de se adaptar ao que está a acontecer.

Se juntarmos a este pano de fundo a entrega da luta pela paz e contra a guerra à extrema-direita, talvez se compreenda que Trump e os neofascistas europeus utilizaram o anseio popular de paz nas suas demagógicas campanhas eleitorais, enquanto do lado dos partidos da democracia liberal o mote foi mais armas, mais guerra. E continua. Mesmo sem poder real. O que os move? A ideia da solidariedade com a continuação da guerra está totalmente desfasada da realidade. Ninguém quer ir combater para a Ucrânia, grande parte dos ucranianos foge da guerra. Na Rússia, segundo se sabe, também.

Criar um espírito europeu desde o Norte ao Sul e a Leste será na base de melhores condições de vida para todos e não da continuação da austeridade para fazer a guerra e comprar armas aos EUA. A força da Suiça não está no seu exército, mas sim no bem-estar da sua população. O mesmo sucederá na Europa.

Destes três anos podem retirar-se finalmente algumas conclusões:

–  Há uma nova potência mundial, a Rússia.

– O mundo voltou a ser marcado por zonas de influência em vez da existência de um mundo sob a influência de uma única potência.

– A UE conta pouco em termos geoestratégicos.

– É provável que entre China, Rússia e China aja alguma descompressão.

– Taiwan, a Palestina e o Irão serão o termómetro para medir o futuro que continuo muito incerto.