O Chocalho chocalha, choca, xinga, chameja, xota, chama.
Olhei para este cartaz e dentro de mim senti um incómodo; não pela mensagem que apoio.Em Portugal há quase dois milhões de pessoas pobres; alguns milhares abandonadas debaixo de aquedutos, outras nas entradas das portas, outras ainda vagueando sem direito a cama de papelão.E, no entanto, não há um único cartaz a pedir que não as abandonem. Um único.Então pensei no seguinte: não abandonar um animal é um ato muito individual; abandonar uma pessoa é abandonar a nossa humanidade; o nosso destino comunitário.Se houvesse tal cartaz ele incomodar- nos- ia de modo muito diferente.Um animal de guarda depende de quem o guarda e se o nao guardar, os serviços camarários eventualmenre o levarão.E um homem ou uma mulher abandonados quem os leva? Ninguém.Então aquilo que diz respeito a todos, à comunidade, o que incomoda, é para esconder.Não é para ser lembrado porque se o fosse tínhamos que arregaçar as mangas e encontrar soluções. Neste individualismo/ egoismo o melhor é ninguém lembrar os nossos deveres de humanos.Um abandonado é uma pedra no nosso sapato da consciência.Um cão é um cão. Não incomoda tanto.O Papa Francisco incomodava- se e pelos vistos incomodava: agora foi apenas uma circunstância. Quem se lembra daquele sorriso?Talvez alguém ou muitos alguém devessem sair da comodidade e afixar cartazes com o rosto dos abandonados a clamar que os não abandonem. É apenas um incómodo.