O MUNDO A MUDAR, A EUROPA EM ANQUILOSE

O mundo assistiu, nos últimos setenta anos, a mudanças que outrora necessitariam séculos. Desde a competição entre os sistemas capitalista e socialista, à coexistência pacífica, à implosão da URSS, à ordem internacional unipolar liderado pelos EUA (correspondente ao fim da História), à guerra na Ucrânia entre o Ocidente e Rússia e à reviravolta dos EUA, pretendendo celebrar acordos com a Rússia e em simultâneo declarar guerra comercial aos aliados e tomar conta da Gronelândia e do Canal do Panamá. O caso da NATO é revelador do desnorte que assola do lado Atlântico. É mais fundo do que o que parece. E na própria UE.

O mundo está a adaptar-se a uma nova “ordem” entre o multipolar e as zonas de influências das principais potências.  O Império já não é capaz de impor a sua lei por esse mundo fora.

Os EUA, sendo, embora, a maior potência mundial, enfrentam desafios que os tornam vulneráveis, desde logo uma dívida externa de cerca de 40 triliões de dólares que só não os levam à bancarrota pelo facto de o dólar ser a principal moeda de pagamento internacional.

A economia norte-americana perdeu capacidade competitiva, não obstante nas indústrias tecnológicas ter resultados espantosos como provam as fortunas de Musk, Bezos e Zuckenberg.

A globalização neoliberal virou-se contra os seus impulsionadores. As principais potências capitalistas deram passagem à China com a deslocação das suas principais fábricas para aquele país em busca de superlucros. É interessante assistir ao facto de ser a China a defender a globalização, enquanto Trump pretende fechar os EUA para fazer a America great again que nos termos em que é apresentado é a confissão da incapacidade de competição no plano do comércio internacional. A UE segue no seu declínio: desindustrialização, degradação do nível de vida e a derrota na guerra. 56 milhões de europeus não conseguem ter as suas casas aquecidas.

O homem de extrema-direita que hoje comanda os EUA não virou nem pacifista, nem antieuropeu. Compreendeu que na Ucrânia ou vence a Rússia ou há guerra nuclear e que não consegue derrotar a Rússia que dispõe de maior poder nuclear e de maior capacidade de aguentar o choque devido à sua extensão. Tornou os europeus ainda mais dependentes dos EUA vendendo-lhes armas, desgastando a Rússia, caso prossiga a guerra.

Os ataques aduaneiros já vinham de Biden com Reduction Inflation Act- 2022-   a castigar os produtos provenientes da UE. Agora Trump agrava as tarifas. Já não consegue competir. É aí que dói.

A União Europeia está como que perdida na sua demencial corrida armamentista num contexto de estagnação económica e de graves problemas sociais que se agravarão com o desvio de recursos do plano social para o plano militar. As forças políticas que carregam no carro da guerra não têm a confiança dos povos. Ademais, paradoxalmente alguns países já só governam com aliados de Trump.

As decisões da Comissão, em matéria de gastos com a defesa, em momento algum, foram objeto de anúncio programático eleitoral.  É este o Norte, o da indústria da morte?

Acresce que a “justificação” algo que assenta na psicologia do medo acenado pelos dirigentes ocidentais. Independentemente dos desígnios nacionalistas de Putin, não há nos últimos 500 ou 600 anos invasões russas de países europeus, enquanto a Rússia foi invadida por Napoleão e a URSS pela Alemanha nazi. Nestes últimos trinta anos a NATO participou na invasão do Afeganistão, do Iraque e nos ataques militares à Líbia, à Jugoslávia e continua a ajudar a política genocida de Israel. Não têm lições a dar.

Trump pretende afastar a Rússia da China e neutralizar os BRICS nas suas orientações de desdolarização dos pagamentos internacionais. Deixa cair a tradicional primeira visita ao Reino Unido (mesmo depois do convite do Rei Carlos III) e vai à Arábia Saudita. O mundo mudou. A Europa não muda, anquilosou. Luta entre si e alguns dos países europeus também querem terras e minerais raros e portos de mar. O butim está em disputa.

2 pensamentos sobre “O MUNDO A MUDAR, A EUROPA EM ANQUILOSE

  1. Luciano José Caetano da Rosa's avatar Luciano José Caetano da Rosa

    Bom artigo. Tudo correcto, parece-me, apenas com duas excepções, que não foram bem invasões, antes intervenções do Pacto de Varsóvia em Budapeste e em Praga.

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  2. Luciano Caetano da Rosa's avatar Luciano Caetano da Rosa

    Bom artigo! Só com duas excepções: Budapeste e Praga invadidas pelas ttopas do Pacto de Varsóvia, talvez por já estarem invadidas por outras forças do dito Ocidente.

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