A Rússia tinha de ser derrotada, este era o disco dos dirigentes da NATO dos EUA, da União Europeia e do Ocidente global. E da esmagadora maioria dos opinion-makers, dos comentadores e da intelectualidade ocidental. Todos à uma – “A Rússia tem de ser derrotada”. Quem assim não pensasse era antieuropeu e simpatizante do autoritarismo.
A quem ousasse perguntar como se derrotava uma potência nuclear, diziam que era chantagem russa. E que o regime putinista não aguentaria muito mais tempo. As mais de 17 mil sanções fechariam a Rússia ao mundo, tal forma era o mundo da irrealidade onde navegavam porque na verdade para eles o mundo era o Ocidente, o resto era a selva, como disse sem pestanejar o socialista espanhol Josep Borrel. Agora o mundo não pode ser o caos como disse o MNE de Espanha, o que mostra a distopia que deles emana. Caos contra o jardim?
Zelenski fez aprovar um decreto a proibi-lo de participar em qualquer negociação com Putin, acontecendo agora andar de mão estendida para negociar com quem se proibiu a si próprio de negociar com o Presidente russo.
Era o tempo das manhãs gloriosos dos gloriosos tanques, mísseis, F16 e conselheiros da NATO que foram estrondosamente derrotados na Ucrânia.
Por uma questão de amor à verdade é preciso ter em conta que em Istambul, logo a seguir ao início da guerra, foi encontrado um acordo que consistia na renúncia da Ucrânia a entrar na NATO, na anexação da Crimeia à Rússia e pouco mais.
Foi o Ocidente capitaneado por essa figura de espantalho dos pomares, um tal Boris Johnson, que impediu a assinatura do acordo prometendo à Ucrânia a derrota da Rússia e o apoio como dizia Biden, Von der Leyen e Stoltenberg, Costa e Cª as long as it takes.
O que se seguiu devia envergonhar quem tivesse vergonha. Todos os dias a censura impedia de chegar à UE qualquer notícia de qualquer entidade russa, tal era o medo dos euroburocratas de Bruxelas. Censura. No tempo da guerra fria podia comprar-se qualquer jornal russo em qualquer cidade europeia, pois agora os liberais de Bruxelas proibiram-no.
Arestovitch, do Conselho de Segurança da Ucrânia, ufano, declarava que a NATO dava as armas e os ucranianos o sangue para desmembrar a Rússia.
João Cravinho, ex MNE, tal cabo de esquadro, afirmava de cima do seu poderio militar que Putin seria preso se viesse a Portugal, calando-se quanto a Netanyahu. Uns valentões.
A Rússia resistiu às sanções e a UE que ficou nas covas sem energia barata, passando a ficar dependente do grande aliado, os EUA, que a vende quatro vezes mais cara. Grande negócio.
Quarenta e sete milhões de europeus da UE não têm dinheiro para aquecer as sua casas Por que razão viver em casas frias faz tão mal à saúde? | Pobreza energética | PÚBLICO. E, no entanto, os dirigentes não eleitos da UE continuaram a sua senda de vassalagem aos EUA até que em Washington outro Senhor ( não recomendável)tomou o comando e deixou esta gente sem saber o que fazer e a rosnar às escondidas.
António Costa que repetiu ad nauseam que a Rússia tinha de ser derrotada vem agora dar lições de tática a Trump achando que as concessões ucranianas deveriam ser feitas só depois de começarem as negociações que sempre recusou porque a Rússia tinha de ser derrotada, sem que ele e outros estrategos e alguns adiantados mentais tenham tido arte de nos explicar como se derrotava uma potência nuclear que em muitos aspetos deste armamento tinha ultrapassado os EUA.
Sei, insisto, que não se envergonha quem não tem um pingo de vergonha. Porém, é tempo de fazer uma espécie de balanço sobre a narrativa quase paranoica do que se passava na guerra em que a Rússia estava a ser derrotada todos os dias. Para tanto enviavam para Kiev centenas de milhares de milhões de euros e asseguravam o funcionamento da economia daquele país e não há uma explicação deste erro estratégico porque estes dirigentes cometeram ao insistirem na entrada da Ucrânia para a NATO, colocando os misseis dos EUA a escassas centenas de quilómetros da capital russa, o que os EUA não permitiram a Cuba em 1962.
Dançavam de acordo com a música de Washington. Cegos pela sua incapacidade de verem para além da sua ideologia neoliberal, deram agora conta que a orquestra do Titanic já se afundara e com ela os vassalos de Biden.
A UE contaria se fosse um projeto de coesão social, um espaço de direitos, de paz e de amplas liberdades. Mas deixou de o ser. É um espaço onde reina o ordoliberalismo e no qual uns mandam e enriquecem e outros empobrecem. Esta é a realidade. Aumentam as desigualdades e a pobreza. A Alemanha e a França estão em crise. Não são nada animadoras as perspetivas.
Continua a russofobia. O caixeiro-viajante da NATO, o Sr. Rutte, insiste na sua atividade de representante do Pentágono em vender armamento. Primeiro armas, depois armas e no fim pão e habitação. Esta é a filosofia dos belicistas. Eles não vão combater. Mandam os filhos dos outros morrer nos campos de batalha e, como se vê, na Ucrânia as coisas não correram bem, deixaram um país em ruínas, sem hipóteses tão cedo de voltar a erguer-se, apesar de lhes terem prometido as long as it takes.
Há lições a tirar acerca da narrativa ocidental acerca da guerra. Foi parcial e manipuladora. Tentou justificar a política de adesão da Ucrânia à NATO, sabendo-se que a Rússia nunca o consentiria, tal como os EUA nunca aceitariam que no México ou Canadá houvesse armas nucleares russas. Os dirigentes europeus comportaram-se como agentes dos EUA e em troca foram mal tratados, como é normal acontecer a quem não tem coluna vertebral.
Estas torrentes belicistas de certo modo anestesiaram as populações, mas não as ganharam para o belicismo. Há um atordoamento na consciência dos europeus. É preciso esclarecer mais e mais. Homens da integridade de Agostinho Costa, André Lopes, Mendes Dias e outros, enxovalhados por almas penadas, ajudaram a desmontar o grau de manipulação que esta gente sem alma foi capaz. Aqui fica a minha homenagem.
A Europa precisa de paz. A Rússia está na Europa há muitos séculos. Por acaso foi invadida por franceses e alemães e também invadiu outros no quadro da Pacto de Varsóvia, o que não tem desculpa. É preciso acabar com este ciclo. É preciso uma Carta de Segurança da Europa e mundial onde todos participem e se sintam seguros. Não é com armas. Com armas prepara-se a guerra e não a paz. O império romano justificava a corrida às armas para impor a paz, mas todos sabem que as legiões romanas impunham a lei de Roma. É preciso parar a corrida aos armamentos nos EUA que tem o maior exército do mundo, na Rússia, na China e UE. Em todo o lado. O mundo precisa de paz. É preciso fazer muito mais pela paz. Não podemos deixar a Putin, Trump, Xijiping, Ursula o monopólio da paz. Temos de nos mobilizar contra o belicismo e pela paz.