Esta cadeira acompanha-me desde Coimbra,1968. Foi raptada no Moçambique, café, cujo dono, o Sr. Fontes, afirmava com a devida autoridade que atribuíra o nome de Moçambique ao café por ser a capital de Angola.
Desde o Bairro Sousa Pinto, na mui nobre e leal República Ninho dos Matulões à Estrada de Benfica nunca mais nos largámos. Tratou-se de um caso sério de amor. Agora acompanha-me em Capelins.
Tem um assento ideal para contemplar a planície e os crepúsculos. Ali fica ela e eu. Só que, entretanto, reparei que não era só eu a olhar e admirar o que via.
António Damásio confirmou nos seus interessantíssimos livros que os animais têm emoções.
Ora eu confirmei que a minha cadeira não sendo um animal, aferra-se aos crepúsculos e já não passa sem eles.
Já não sou só eu que sentado nela vejo o sol ir-se. Ela também. Fica inquieta quando chega a hora e eu não a puxo do lado do forno para a abertura do alpendre. Inquieta, pois. Saltita e encosta-se levemente quando por ela passo.
Pensava eu que os meus crepúsculos, sentado na cadeira eram apenas meus, mas não; são também dela.
Devo dizer que viveu sempre comigo nos quartos que me calharam enquanto estudante. Depois como os quartos não eram só meus, sei que a magoei, colocando-a numa parte da casa em que diariamente não tínhamos de falar.
Depois veio Capelins e tudo mudou. Hoje foi ela que se arrastou para fora do alpendre para ver o que ela acha a que tem direito – o crepúsculo.

Bom dia!
Fez-me lembrar o livro do Mº de Carvalho, “Um Deus Passeando pela Brisa da Tarde”, e saboreei o prazer de ver que apesar do fim das nossas vidas se aproximar do “fim do império”, a Terra continuará a rodar em torno do Sol e a deliciar os seres terrestres com os seus raios de luz
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