A grande questão: pode viver-se sem música? Quando os nossos antepassados imitavam os pássaros, o vento, o mar, procuravam algo para além do que lhes dava o quotidiano. Quando zunia na alma a força do trovão e a beleza do crepúsculo e o suspiro do rouxinol ficou escrito que se não podia viver sem música.
O homo sapiens inventou um complemento para a eternidade. Os gregos talvez tenham sido os primeiros a elevar a música para patamares a roçar o divino.
Tudo muda quando ouvimos música. A alma voa dentro de nós. Dizem que não há quem a apanhe. Tanto no ritmo, quanto na doçura. Tanto no amor, quanto na resistência.
Ein Klein nacht music de Chopin. Quem não ri ou chora por dentro de si? E as cantatas de Bach, quem não gostaria de se transcender para as compreender a cantata, Ich ruf dir Herr Jesu, que compôs Bach e nós ouvimo-la como se a vida já fosse um Céu…e é para quem bem ouvir.
A Gulbenkian, entre tantas e tantas virtudes, organiza concertos com músicas do mundo, sempre de elevadíssima qualidade.
No sábado, foi a vez de chegar ao palco uma mulher cuja voz oi raptada aos deuses da música e desceu à “ Mother Nature” ( como ela canta) para a espalhar pelos humanos. Afinal a voz iguala o fogo no confronto com os deuses.
O calor contagiante, a intensidade do ritmo e da voz, o poder da percussão e da bateria, a magia do baixo elétrico e os teclados a ziguezaguearem atrás da voz e do ritmo fazendo-nos ficar de bem com a vida. O milagre de Angélique Kidjo.
Veio para cantar e a cantar disse-nos que só se é livre se todos formos livres e que todos somos humanos, se bem que nem sempre pareça, acrescento eu.
A poderosa alegria que da garganta de Angélique ressoa é a voz de África e a nossa vontade de sermos livres verdadeiramente. Ouvindo “Sahara” a nossa mente viaja ondulante com as caravanas e bebe a água dos oásis, como num sonho.
Angélique Kidjo cantou com Lura “Carnaval de São Vicente”. E dançamos porque todos se puseram a dançar. E dançámos contra estes tempos de tristeza. Angélique trouxe-nos um banho de alegria. Bem-haja. A alegria faz sempre falta, mas há alturas que faz mais falta. Ela explicou na letra de Joy.
Só posso aplaudir o texto e invejar-te pelo concerto que não vi nem senti,
ab
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