El-Andaluz – a taberna da boa vida

No banquete de Platão os convivas apresentaram-se para comer, beber e discutir o que é o amor.

Em volta de uma mesa, um banquete entre amigos, deu o chão onde eruditos patrícios de Atenas se entretiveram a trocar argumentos sobre a importância do corpo e do espírito no amor.

Sócrates ergueu-se acima de todos os outros. Diotima (segundo vários autores, trata-se de Aspásia, a heitara – espécie de amante – de Péricles), atinge no simpósio uma elevada reputação pela sua explicação do que entende ser o mais importante no amor.  

O nosso cirurgião António Damásio explica-nos, salvo erro, a propósito do sistema nervoso entérico, a importância das vísceras na formação do sentimento de bem-estar.

Ora tudo isto para falar de uma taberna e de um mundo de afetos. Quem passar por Reguengos de Monsaraz tem a possibilidade de se sentar à mesa e desfrutar de uma boa comida servido pelo conductor da orquestra, o engenheiro José Morgado.

Platão menosprezava os sentidos. Ignorava o corpo enquanto realidade material e perseguia a alma, o tal espírito.

Na taberna El-Andaluz José Morgado realizou a síntese entre a boa mesa e o afeto que dedica aos convivas e que gera novos afetos entre os convivas.

Adivinha-se, quando a comida chega, o gosto na sua confeção; os que cozinham sabem o quanto lhes vai na alma quando oferecem aquela espécie de amor. Os que a recebem também veem nos olhos do anfitrião essa incandescente partilha dos alimentos e a satisfação pela partilha.

À mesa da taberna tudo é simples porque tudo é inventado ou reinventado a partir do que melhor tem a cozinha alentejana ou andaluz onde José Morgado mergulha.

 Os canapés de anchova são alimento de entes divinos, talvez arte aprendida na costa andaluza. Depois tudo o que no Alentejo é digno de se servir a preparar o prato maior: queijos, enchidos, pezinhos de porco, e outros inesperados esmeros que mais vale saboreá-los que nomeá-los como diria o nosso enorme Luís Vaz de Camões de quem agora se comemora os 500 de nascimento, sem que as autoridades se preocupem muito.

A tradição é a maior valência: galo do campo estufado, rabo de porco estufado, sopa da panela, sopa de tomate, cozido de grão, e o mais que se encomende.

As sobremesas vêm do mesmo solo alentejano e em parte algarvio devido a uma costela de Dom José.

Lembrem, porém, que comer não é apenas mastigar, é muito mais. Comer numa mesa de amigos com o afeto do cozinheiro tanto na confeção como no entabular da conversa que só a comida, a amizade e o amor concedem aos que merecem.

Uma taberna de um tempo antigo atualizado no presente, onde a boa mesa e o bom convívio não nos elevam na nossa condição de humanos.

Talvez José Morgado um dia organize um simpósio para entre as gulodices de sua mestria se discuta o amor em todas as suas dimensões.

Aos ascetas fica o convite para se converterem à boa mesa e aos melhores afetos.

Deixe um comentário