Gaza e a idade tribal de Netanyahu

Os seres humanos criaram os adjetivos para conferir características aos substantivos, para fazer luz acerca do que pretendem transmitir desde o horror ao belo. Quer no amor, quer na beleza, quer no horror acontece, como escrevia o poeta Eugénio de Andrade, que se gastaram as palavras de tanto as usarmos para determinadas situações ou estados. Outro poeta, Paulo Sucena, escreveu um livro de poesia com o título “Amor em adjetivo”.

Na verdade, as palavras não passam de palavras, mas as palavras não deixam de ser o grande meio de comunicação que os humanos se servem para expressarem os sentimentos, os saberes, as interrogações, entre tantos outros problemas e satisfações, que os moldam.

Quando olhamos o que se está a passar em Gaza com a brutalidade dos bombardeamentos israelitas sobre a população totalmente indefesa os nossos sentimentos não encontram palavras que possam descrever, em pleno século XXI, o horror e a malvadez dos homens e das mulheres que ordenam semelhante atrocidade. É como se recuássemos milhares de anos, varrêssemos os progressos civilizacionais e da caverna dos mais poderosos e selváticos ouvíssemos o grito de matar tudo o que aparecer e que não seja do respetivo clan. Como se os outros fossem coisas para destruir e não seres vivos, como se a racionalidade andasse de mãos dadas com a selvajaria. Como se os outros humanos não o fossem.

A equipa dirigente israelita atingiu o grau da pura esquizofrenia ao colocar toda a sua inteligência e capacidade na destruição de um outro povo que nasceu e viveu séculos no mesmo solo. Netanyahu vive na idade das tribos. O seu espírito não evoluiu, cada homem tem dentro si o progresso e as trevas; ele fechou-se na escuridão tribal.

Pois bem, é a este homem que Biden, von Der Leyen, Scholz, Borrel e Cravinho vão prestar solidariedade. O mundo entrou num redemoinho de loucura que nos deixa a todos desamparados, caso não façamos o que temos de fazer.

A Humanidade não pode deixar matar os palestinianos como caça de cerco despejando sobre eles milhares e milhares de explosivos por metro quadrado matando em primeiro lugar crianças, mulheres e idosos. É a própria Humanidade que morre na morte do povo palestiniano.

Os dirigentes ocidentais ao permitirem esta barbárie deixaram de nos representar. Eles não foram eleitos para permitir semelhante brutalidade. Nunca nos disseram que iriam dar o seu acordo à solução final dos palestinianos matando-os ou fazendo-os espantar como o gado para outros países ou para o mar.

As palavras estão gastas, mas os sentimentos não. Não podemos morrer em Gaza. A morte é a morte e precisamos de vida. Levantemos toda a nossa indignação e sejamos solidários com o povo palestiniano.

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