O HOMO BELICUS VERSUS  A MARAVILHOSA AVENTURA DA VIDA

Há muitas razões para desconfiar de Putin, Zelenski, Biden, Ursula e de outros dirigentes. O primeiro invadiu a Ucrânia. Os segundos transformaram os Acordos de Minsk num biombo para a Ucrânia se rearmar, como confessaram. Tentaram, sabendo da total oposição russa, levar a cabo a integração daquele país na NATO com as consequências conhecidas para a Ucrânia.

A integração se se concretizasse significaria que a Rússia passaria a ter a sua fronteira de 2.245,80 quilómetros com a Ucrânia (Wikipedia) e com os 31 países da NATO.

Recorda-se que Cuba não faz fronteira com os EUA, mas quando a URSS instalou misseis com ogivas nucleares naquele país, o mundo esteve muitíssimo perto de uma guerra nuclear.  

A guerra é na Europa e para desgraça dos europeus. A narrativa dominante não compactua com os poucos que não enfileiram no caminho da guerra. A continuar assim brevemente será entronado o homo belicus com a Sra. Ursula na sua apresentação e coadjuvada por Josep Borrel.

Alega-se que esta corrida aos armamentos é para defender a “democracia liberal” e os “nossos valores”. O Ocidente dos “nossos valores” à sua conta tem um lastro de vários milhões de mortos nas guerras da Argélia, Vietnam, Laos, Camboja e Iraque, entre muitas outras. Eram democracias os invasores e ocupantes. Os “nossos valores liberais” ainda sangram em Hiroshima e Nagasaki às mãos da democracia USA.

Repare-se como a democracia liberal de Israel ocupa e mata a sangue-frio nos territórios palestinianos ocupados.  Por que não há sanções contra Israel, antes apoio de todo o tipo?

 A maioria da Câmara dos Representantes nos EUA acaba de aprovar uma proposta de sanções a aplicar aos juízes do TPI e seus familiares, caso decidam emitir um mandado de captura contra Netanyahu pedido pelo procurador junto do tribunal, que fez idêntico pedido contra responsáveis de Israel e do Hamas.

 Por que não há solidariedade com a luta contra a ocupação israelita? Por causa do Hamas? Mas o batalhão Azov dos seguidores do nazi Stepan Banderas não impede o Ocidente de enviar cada vez mais armamento para a Ucrânia. Veja-se a excelente reportagem deste jornal Como a Ucrânia se tornou no maior viveiro de neonazis do mundo | Extrema-direita | PÚBLICO (publico.pt)

O Ocidente não tem uma abordagem séria destes conflitos. Muitos milhares de milhões em ajuda aos ocupantes israelitas, nem uma fisga para os palestinianos combaterem o ocupante. Sanções nunca vistas contra a Rússia- Choque e pavor- nem meia sanção contra Israel.

Os que se atrevem a defender soluções negociadas para a esta guerra são apelidados de putinistas, mesmo quando estão nas antípodas do regime vigente no Kremlin.

 A narrativa oficial alega que está em causa o nosso modo de vida, mas nós somos da NATO desde o regime salazarista/fascista. Conviveram bem até 25 de Abril de 1974.

A insensatez das elites e das opiniões públicas é gritante. A força da gravidade do poder faz com que a maioria se sujeite a essa força. Todos caminham como se na Europa não houvesse uma guerra, que a continuar, pode alastrar a todo o continente e entrar noutro patamar terrível, o do braseiro nuclear. Dizem que é preciso perder o medo, mas o medo da guerra ou o medo da paz? Coragem é não ter medo da paz. E há, apesar de tudo, quem resista. Aí reside a esperança, na força dos que se não vergam às narrativas belicistas.

Tudo se pode resolver, mesmo os problemas mais graves entre Estados, desde as armas não liquidem as condições de vida para negociar. É confrangedor não surgir na opinião pública europeia um despertar que leve à criação de um movimento que não se renda ao peso do poder dos governantes belicistas que cortam despesas na Escola Pública, no SNS, na habitação pública, nas creches e infantários para empregarem esses fundos na compra de armas.

É necessário que os dirigentes europeus pressionados pelas opiniões públicas obriguem os dirigentes russos, ocidentais e ucranianos a fazerem cedências. A paz é a palavra mais subversiva na atualidade. Na Europa a extrema-direita cresce, como se viu nas recentes eleições europeias. Quanto maior for este sufoco belicista, mais crescerá.

Podemos estar a caminhar para uma guerra europeia. É preciso vencer o peso da inércia e levantarmo-nos do chão para inverter o atual sentido do conflito. O braseiro nuclear faz-nos tão humanos que acabam as diferenças sociais, ideológicas e religiosas. Saibamos ser racionais e inteligentes e defender a paz, a condição que nos permite continuar a nossa maravilhosa aventura de vida.

https://www.publico.pt/2024/06/11/opiniao/opiniao/homo-belicus-versus-maravilhosa-aventura-vida-2093664

2 pensamentos sobre “O HOMO BELICUS VERSUS  A MARAVILHOSA AVENTURA DA VIDA

    1. Adeodato Clemente

      Não há santinhos nestes conflitos. Claro que a paz é sempre preferível, mas que fazer quando um santinho se lembra de a por em causa? A ambição de a maioria de um povo ter uma vida dentro de uma democracia, com todos os seus defeitos, em alternativa a ter uma vida dentro de uma autocracia, não será legítima? Metaforicamente deveremos oferecer a outra face quando nos bofeteiam? Claro que os interesses bélico/económicos estão sempre à espreita de uma oportunidade, e quando estas escasseiam outras fomentam. Mas o sucesso numa negociação entre partes com poderes desnivelados, o win win tem poucas hipóteses. Para quem segue de perto estes conflitos, não terá dificuldade em encontrar argumentação a seu gosto, mas terá certamente mais dificuldade em identificar as variáveis que, garantidamente, anulem as interações socialmente entrópicas. Da física podemos analogamente afirmar que uma perturbação, uma vez iniciada, terá um período mais ou menos longo até à sua atenuação estabilizada, dependendo claramente das condições envolventes, podendo mesmo em situações específicas, ampliar-se. Os interesses geopolíticos, expansionistas ou libertadores, não são compatíveis, e, nem os seus mentores nem seus apoiantes, devem ser metidos todos no mesmo saco.

      Gostar

Deixe um comentário