Os Resultados Eleitorais e a Necessária Convergência à Esquerda

Há qualquer coisa de inatingível na vida política portuguesa apesar das e dezenas e dezenas de comentadores e “explicadores” da realidade.

O PSD há quatro anos obteve 108 deputados e o CDS 24, o que somados deu 132.

Nestas eleições o PSD e o CDS juntos tiveram 99 deputados. Juntando os 5 da Madeira do PSD ficam com 104 deputados. Feitas as contas juntos o PSD e o CDS alcançaram o resultado do PSD sozinho, a diferença é um deputado…

Expliquem-me onde está a vitória…O que havia em Portugal era uma maioria de direita que deixou de existir… Apesar da abstenção recorde a direita perdeu 738.301 votos.

Passou a haver uma maioria dos partidos que estavam contra o governo: PS, PCP e BE… Onde está a vitória? PSD e CDS perderam a maioria absoluta que tinham, não obstante o apoio da Alemanha, da União Europeia, das agências de notação e tutii quanti…

O PS todo glutão queria a tal maioria absoluta e para tanto jogou na velha questão do voto útil. O resultado foi sair chamuscado.

Nem Costa, nem Cavaco, nem Passos tiveram a tal maioria. O povo português não quis que nenhuma das forças tivesse maioria absoluta e percebe-se porquê depois destes quatro anos.

Os resultados eleitorais deram, pois, uma maioria clara aos partidos que se posicionaram contra a austeridade. Os ilusionistas, desde Schäuble a Passos, proclamam de cima dos mass media que a política austeritária ganhou, o que para quem olhar para os números só pode concluir que se trata de um enorme embuste.

O resultado espetacular do BE é um alento para tod@s @s que querem encontrar uma alternativa.

O BE e Catarina Martins corrigiram o eixo e mostraram um conhecimento, uma disponibilidade e uma abertura que foi reconhecida pelos eleitores. De certa forma veio confirmar que quem está em quarto ou quinto lugar pode passar para terceiro, sem fanfarronices.

Os resultados, por outro lado, confirmam a existência de um largo campo da esquerda a partir do PS e que pode crescer.

A grande questão é esta: face à unidade da direita é possível a esquerda unir-se?

Se a esquerda – PCP, BE e muitos independentes de esquerda se fossem capazes de unir eleitoralmente o efeito desta unidade ultrapassaria em muito a força destas formações e criaria uma nova realidade capaz de alcançar um resultado para além dos vinte e cinco por cento e ser um factor de pressão sobre o PS a ponto de o poder puxar para uma alternativa sob pena de se poder vir a transformar num PASOK, tal é o afastamento do PS da matriz social-democrata.

Bem vistas as coisas os programas do PCP e do BE, nesta fase e para a atualidade, giram em torno dos mesmos valores que são os pilares do Estado Social.

Há denominadores comuns amplos entre o PCP e o BE para do ponto de vista eleitoral justificar que termine o estado da adolescência e entrem na idade adulta.

A direita foi capaz de o fazer, apesar das múltiplas diatribes de Portas, bem conhecidas de Cavaco, Marcelo, Durão …

A direita tem nos seus interesses uma grande capacidade para se defender.

Este polo eleitoral à esquerda a criar-se pode ir muito para além do BE e PCP dada a existência de ativistas noutras formações e independentes.

Não se pode aceitar que as diversas esquerdas à esquerda do PS não possam convergir eleitoralmente. Que desígnio é este que não possa ser suplantado por via do imperativo democrático e patriótico?

Será seguramente muitíssimo difícil, mas o destino deste país exige a coragem e a inteligência para rasgar perspetiva e libertá-las de um certo acantonamento.

Se o BE, por ter tido um bom resultado eleitoral, se sentir totalmente satisfeito e não for capaz de compreender a importância desta convergência eleitoral necessária até poderá aumentar mais uns pontos, mas o poder continuará nas mãos dos partidos do arco do governo.

É preciso que nesta área das esquerdas haja um reforço eleitoral de vulto que aliado à pressão popular altere substantivamente a correlação de forças com o PS.

Há muitos cidadãos para além do BE e do PCP e do Livre que aspiram a encontrar essa convergência eleitoral forte de esquerda capaz de rivalizar com o PS, capaz de alcançar uma meta acima dos vinte e cinco por cento.

Se o PS não a tiver em conta correrá riscos de perder muita da influência que tem, tal como ocorreu na Grécia com o Pasok. A simples existência dessa possibilidade obrigaria o PS a infletir à esquerda ou mantendo o atual rumo a perder cada vez mais influência dado que as suas propostas não são muito diferentes das defendidas pela direita liberal no poder.

Ao mesmo tempo se o PS se não diferenciar de modo nítido do PSD e do CDS abre-se ainda mais o espaço para este espaço acima descrito.

Este é desafio: ficar contente e ficar imobilizado ou ser exigente e partir para a exigência democrática de ser capaz de forjar uma alternativa, convergindo e criando um forte polo eleitoral com base no BE e PCP e outros, mantendo naturalmente cada partido a sua identidade.

Este será o modo de eventualmente poder trazer o PS para o lado das políticas contra a austeridade e implementando políticas de crescimento e desenvolvimento nacionais, gerando empregos dignos e esperança para este país cansado de tanto malabarismo para defender os interesses de uma ínfima minoria.

Continuar cada qual encastelado a proclamar todas as suas virtudes e deixar que a direita e a vaga neo liberal vá empobrecendo o país é um suicídio a prazo que as gerações futuras não perdoarão. Mesmo que proclame que está contra. Não chega. É preciso juntar forças e força para mudar o rumo. Não se pode fugir a essa realidade por mais “justificações” que se arranjem.

Que cada um assuma a responsabilidade histórica de sair deste marasmo em que PS, PSD e CDS vão ditando as suas leis de ataques aos direitos de tod@s  quant@s trabalham e comprometendo o país num colete de forças que o leve a ter um papel marginal dentro da U.E. por muitos e muitos anos.

Há que começar agora porque o que aí vem é a continuação da mesma política com a agravante de a todos os momentos a atual maioria existente vir a ser chantageada por não deixar a minoria no governo impor a sua lei de chumbo contra os portugueses e Portugal.

3 pensamentos sobre “Os Resultados Eleitorais e a Necessária Convergência à Esquerda

  1. Rui Romão

    Tem toda a razão,e mais , para além das propostas do PS não serem muito diferentes das propostas da direita, ainda mais grave, são as proposta ambíguas que o PS faz para poderem flutuar no poder politico que tem trazido o como resultado o que vimos.
    Mas isso da esquerda( BE e PCP) , não convergirem , tem resultado numa culpa acentuada de ambos originando o estado onde chegamos.
    Se a esquerda quer realmente melhorar a qualidade de vida da maioria dos Portugueses , tem de ter a inteligência suficiente para convergir as ideias em prol deste povo que tanto tem sofrido , antes e depois do 25 de Abril de 74 , e só assim o povo Português perceberá que não são todos iguais como dizem as pessoas que não acreditam mais na politica nem nos políticos.
    Mas só passando da retórica a acção.

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